quarta-feira, 28 de julho de 2010

“O povo que se exploda!”

Hoje tive de recorrer ao Detran. Tinha, como todas aquelas centenas de pessoas que estavam lá de papelzinho na mão, algumas burocracias para enterrar, e como boa parte daquelas pessoas, saí de lá sem resolver tudo que precisava.

Estava ao mesmo tempo em duas filas, já que o Detran vê-me como dois – numa fila, eu era o Luciano motorista, na outra era o Luciano proprietário de veículos, achava que de três, mas só de dois, porque um carro está registrado em nome da minha esposa, e a moto, no da minha irmã.

Não vem ao caso. Perdi, somando uma fila e outra, bons 50 minutos. Tempo em fila é sempre perdido, e para amenizar a sensação de desperdício o infeliz que vê-se preso a uma fila puxa conversa com seus colegas de perda de tempo. É assim em todo lugar. Na fila do consultório médico, ou do posto de saúde, pessoas que nunca se viram trocam experiências sobre os males que lhes comprometem a saúde, e na da revisão mecânica trocam-se as amarguras vividas com os problemas dos carros, que nunca são decorrência da falta de manutenção adequada, mas culpa do fabricante, isso nem se discute. E na do banco, a pauta passa obrigatoriamente pela pindaíba que todos vivem e pela lei que estipula um tempo máximo de permanência em filas, que não é cumprida em lugar nenhum, como grande parte das leis que abarrotam nossa Constituição.

Volto ao assunto, o bate-papo com meus colegas de fila na 7ª Ciretran. Lá estava um conhecido que foi entregar sua carteira de habilitação, suspensa com 42 pontos numa contagem que permite 20. Recomendei-lhe mais prudência ao volante, embora eu, com a contagem estourada em 28 pontos, tenha levado de fato só cinco, já contei essa ladainha em outra oportunidade.

Dos pontos que considero não ter sofrido, 12 provêm do EstaR. O que leva à matemática óbvia de, em quatro situações, um carro meu ter sido notificado por estar ocupando espaço em área regulamentada sem o uso do cartão da Cettrans. Paga-se uma taxa de cinco pratas para regularizar a notificação. Quem não regulariza leva três pontos na carteira e é agraciado com uma multa de cinquenta e três dinheiros acrescidos de mais alguns centavos desprezíveis.

Muitos dos interlocutores contaram infortúnios parecidos com o meu – e sobre o qual eu não havia aberto o bico durante aqueles intermináveis minutos. Foram notificados no EstaR, não pagaram a taxa e as penas viraram multas e pontos em suas carteiras.

Sabem por quê? Não é novidade para ninguém. Porque o Município de Cascavel, que teve a competência de celebrar com o Detran uma parceria para transformar em multas oficiais as notificações não regularizadas não tem boa vontade, ou competência, ou os dois, para tirar de circulação os flanelinhas que retiram as notificações dos veículos sob a prerrogativa de amealhar algumas moedas dos motoristas. “Bem cuidado, tio, fiscal passou e eu disse que o senhor já estava voltando”, é o que alegam. Se não tivessem dado fim ao adesivo e ao talão da notificação, cada proprietário teria aproveitado o prazo de alguns dias úteis para pagar os cinco dinheiros e evitar o transtorno. Ao usuário, não cabe defesa, nem alegação, nem nada. Sobra como vítima de um sistema mal bolado.

A reclamação e a constatação do problema são tão antigas quanto sérias. Nem sei quem foi o prefeito que viabilizou o sistema, mas é fato que cabe ao atual, de uma forma ou outra, acabar com a piada de mau gosto. A Cettrans e as instituições a ela superiores parecem dar de ombros. Carro oficial não paga EstaR, então aí aplica-se a lógica de Justo Veríssimo – “o povo que se exploda”.

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