Cada qual dá às coisas a importância que bem entende, e o que uma pessoa define como prioridade deve ser respeitado, via de regra, como problema inerente apenas a ela. Quaisquer julgamentos a respeito não se fazem cabíveis. Ainda assim, alguns fatos suscitam considerações.
Volto a falar da festa de premiação do Capacete de Ouro, ontem à noite no Via Funchal. Jonathan “John” Louis, paranaense que acaba de completar 16 anos, recebeu na festa o prêmio máximo da categoria Kart. Dono de 20 títulos e 13 vice-campeonatos no kart, Louis teve em 2010 sua estreia no automobilismo, na Fórmula Future. Venceu a última etapa, domingo último em Santa Cruz do Sul. Louis tentou dizer algumas palavras. Quase às lágrimas, não conseguiu concluir as frases. Estava, de fato, emocionado com o momento.
André Pedralli, meu conterrâneo de Cascavel, disputava com outros quatro garotos do kart o prêmio Novos Talentos. Esta, ao que me parece uma novidade no evento, tinha um regulamento um tanto diferente das demais categorias. A começar pelo próprio número de finalistas, cinco, diante dos três de todas as outras. A votação foi aberta, também, posso estar errado. Por conta da chuva, sua viagem atrasou, o itinerário sofreu mudanças. Viu-se na dependência de um voo que partiria de Curitiba depois das nove da noite para estar no Via Funchal, em São Paulo, no evento que começaria antes desse horário. Não desistiu, deve ter sido uma correria dos diabos, mas deu as caras, acompanhado dos pais. Coube a mim, casualmente, a inglória missão de dizer a ele que a premiação já havia sido feita e que não tinha sido ele o contemplado – Felipe Fraga, do Tocantins, ficou com o troféu. A decepção momentânea foi visível. Ainda assim a família Pedralli permaneceu ali até o término do evento.
A categoria Revelação teve, claro, três jovens kartistas como finalistas. Quando o mestre de cerimônias anunciou que o Capacete de Ouro iria para Gabriel Sereia, familiares e amigos do garoto surpreenderam a todos com uma espontânea e gostosa comemoração na plateia. Pareciam torcedores de futebol comemorando um gol em fim de campeonato. Sereia, aos 12 anos, não deve ter ideia de que aquele senhor de 73 anos de cujas mãos recebeu seu comemorado prêmio foi um dos maiores nomes do nosso automobilismo. Mas certamente há de pesquisar sua trajetória, e o currículo moral de Gabriel ostentará até o fim da vida o item “Capacete de Ouro de 2010, recebido das mãos de Bird Clemente”.
Citei aqui três episódios que verificamos poucas horas atrás na festa de premiação do Capacete de Ouro. Todos, coincidência ou não, envolvendo kartistas. Que dão ao prêmio uma importância talvez até maior do que ele realmente tenha. Afinal, só quem ganha – e também quem não ganha – um reconhecimento como esse é que pode mensurar com precisão quão importante ele pode ser. Rubens Barrichello, finalista de sua categoria desde que o prêmio foi criado, faz questão de aparecer sempre que está no Brasil. Ontem, não só subiu ao palco para receber seu troféu como também foi padrinho da premiação à molecada do kart.
Cacá Bueno, um dos melhores pilotos de turismo do Brasil na atualidade, talvez o melhor, conquistou o prêmio principal da categoria Trofeo Linea, um título que conquistou também na pista. Não esteve em São Paulo para recebê-lo. Soube que perdeu o avô no fim de semana. Colegas presentes à festa confidenciaram ser rara a aparição de Cacá no evento, em que invariavelmente consta como finalista, fruto do eficiente trabalho que faz nas pistas.
Concluo que receber um Capacete de Ouro, para alguém com uma carreira como a de Cacá Bueno, pode ser menos importante que para um menino que sonha repetir sua trajetória vitoriosa nas pistas.
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