sábado, 16 de outubro de 2010

Alex Barros

Hoje, aqui no autódromo de Curitiba, aconteceu a 11ª etapa do Porsche GT3 Cup Challenge. Mais uma corrida de carros, enfim. Em que houve um vencedor, vários perdedores, embora não devamos classificar exatamente como perdedores pilotos que são segundo, terceiro, décimo, décimo-quinto. São todos vencedores, são esportistas, terminaram vivos e foram dar risadas juntos, diria uma senhora que conheço.

A título de registro, ganhou Ricardo Baptista, vice-líder do campeonato, está em uma fase muito boa, o rapaz, ganhou três das cinco últimas. Tudo são estatísticas que amanhã ou depois a gente esquece. Coisa que vou demorar a esquecer foi a atitude que presenciei instantes depois da corrida.

Para que se saiba, Baptista viu a vitória cair em seu colo na metade da última volta, isso foram palavras dele próprio. Outro Ricardo, o Rosset, líder da temporada, largou em primeiro e ali se manteve até o final. Alexandre Barros largou em segundo e pressionou o líder também até o final. Era a última volta quando Alex tentou o bote final. A manobra deu errado, os dois se tocaram, perderam tempo. Alex, pareceu-me – e o colega Luiz Alberto Pandini teve a mesma impressão –, deu mostras de que poderia esperar Ricardo para devolver-lhe a posição. Fato é que o outro Ricardo vinha se aproximando.

Barros cruzou em primeiro a linha de chegada. Não comemorou. Até chegar aos boxes, a direção de prova já havia definido o acréscimo de 20 segundos a seu tempo de prova como punição pelo incidente, o que o derrubou para décimo. Quando chegou ao pódio, não sabia da punição, que anunciei pelo sistema de som do autódromo quando ainda estava dentro do carro.

Até subiu ao pódio, Barros, quando alguém alertou-o de que seu resultado final era um décimo lugar. “Não sabia, ninguém me falou”, reagiu. “De qualquer modo, eu não iria aceitar essa vitória. Iria entregar (a vitória) ao Rosset”, falou – mesma mensagem que compartilhou instantes depois com seus quase sete mil seguidores no Twitter.

Era exatamente isso que seu semblante explicitava àquele momento. Que ele, um piloto com 32 anos de carreira nas pistas, quase todos cumpridos sobre duas rodas, não aceitaria ser declarado vencedor diante do que havia ocorrido. Não estava assumindo ou atribuindo culpa. Sem nada complexo, não achou correto receber a premiação pela vitória que, até então, pensava ser sua.

Não fez mais que a obrigação, o Barros, você pode concluir. Com o que concordo. Mas posturas como a dele no episódio de hoje são coisa raríssima no esporte de então. No esporte, e não só no automobilismo do qual vivo.

A propósito de Alex, encontrei nesta semana nos arquivos do meu mambembe laptop um texto sobre ele que escrevi no começo do ano para a revista “Cockpit”. Que segue reproduzido abaixo, sem qualquer atualização de dados – só as fotos, as únicas que eu tinha aqui à mão, é que são do mês passado, de quando ganhou as corridas na Argentina.


Não importa quantas rodas...
Depois de três décadas como destaque brasileiro na motovelocidade, Alexandre Barros faz sucesso no automobilismo

Luciano Monteiro

É impossível a uma roda de conversa abordar a motovelocidade brasileira sem que se levante, a qualquer altura do bate-papo, o nome de Alex Barros. Afinal, o piloto paulista dedicou 30 de seus 39 anos às competições sobre duas rodas. Foi contemporâneo de várias gerações de sucesso no Mundial. Dividiu curvas, retas e boxes com nomes como Randy Mamola, Kevin Schwantz, Eddie Lawson, Wayne Rainey, Michael Doohan, Sete Gibernau, Max Biaggi, Luca Cadalora e Valentino Rossi. Um histórico que inviabiliza qualquer associação, ainda que hipotética, de Barros com o automobilismo. Certo? Errado.

Barros é, hoje, um dos principais nomes das corridas de carros no Brasil. Disputa o ascendente Porsche GT3 Cup Challenge. Nas seis primeiras etapas, colheu três terceiros e dois segundos lugares. Liderou o campeonato e, com sua última atuação comprometida pelo toque que levou ainda na primeira volta no Velopark, perdeu a liderança do campeonato para Ricardo Rosset. “Eu não tinha nenhum plano de correr de carro, foi algo espontâneo, sem programação. Estou achando muito bacana, me divertindo muito”, conta, atribuindo a nova experiência a um convite feito por Dener Pires, organizador da categoria.

O Porsche Cup deu a Alex Barros a exata dimensão da diferença entre o automobilismo e o motociclismo. “A diferença básica é que a moto inclina e o carro não. O princípio todo está nisso. A maneira de dirigir é um pouco diferente, mudam algumas coisinhas no traçado, por exemplo”, ensina. “Quem dirige moto não tem muita dificuldade quando pega o carro. O carro exige sensibilidade nos pés, eu desenvolvi minha sensibilidade nas mãos, porque você pilota a moto com a parte superior do corpo. O carro escapa um pouco mais, sai destracionando um pouco, mas estou aprendendo a domar o bichinho”, ele pondera.

Nem a atuação no Porsche Cup foi suficiente para relegar Alex Barros à condição de ex-piloto de motos. Algo inadmissível para quem pilotou até 20.000 km por ano sobre duas rodas enquanto esteve no Mundial. Ele mantém hoje o Alex Barros Riding School, que tem seis edições por ano e movimenta entre 50 e 70 alunos por evento, com aulas teóricas e práticas de pilotagem – o funcionamento dessas clínicas é detalhado em seu site www.alexbarros.com.br. Entre os vários outros projetos que levam sua assinatura está o desenvolvimento de uma nova categoria nacional de motociclismo, que deverá ser lançada em breve.

Alexandre Abraão de Barros mantém-se, até os dias de hoje, recordista absoluto de participações na categoria máxima do Mundial de Motovelocidade, com 276 largadas. Esteve no pódio 32 vezes, sete delas como vencedor. Assinalou cinco pole-positions e estabeleceu 14 voltas mais rápidas em corridas. Foi quarto colocado nos campeonatos de 1996, 2000, 2001 e 2002, anos de seus melhores desempenhos. “Não atingi todos os meus objetivos no Mundial, mas sou um vitorioso”, considera. “Não é fácil você permanecer lá por 18 anos. Tenho uma carreira de sucesso”, sentencia, sem cerimônias.

A carreira no motociclismo teve influência na atuação de seu pai, Antonio Coelho de Barros, em competições de ciclismo. Começou a disputar corridas aos 8 anos. Amealhou títulos brasileiros nas categorias de base e, aos 15, foi embora para a Europa, para disputar o Mundial das 80cc. Estreou nas 500cc quatro anos mais tarde e a sequência de sua história é mais que conhecida. Hoje, é Alex quem serve como referência. Lucas Barros, seu filho de 14 anos, atua na forte motovelocidade espanhola. Quem o acompanha de perto é Antonio, o avô que deu início à saga dos Barros sobre duas rodas. E, agora, quatro.

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