Hoje faz dez anos que perdi meu pai.
A passagem dos intervalos de tempo costuma dissipar aos poucos os motivos do passado, mas pai, como irmão, mãe, filho, não é algo que se esqueça. E invariavelmente lembro do meu, e sempre dá uma vontade danada de chorar. Algo como um desabafo solitário.
Não estive tão perto do meu em seu fim de vida. Estava ocupado com coisas com que ninguém deve se ocupar e não estive presente como deveria, como ele gostaria que estivesse, durante a doença que o levou. O tempo passa e dissipa as coisas; isso é fardo que não se dissipa, e a sensação de dívida pesa.
A vida e seu fim são coisas estranhas. Todos temos a respeito teses e crenças a que, a fundo, não sabemos quanto crédito dar. Meros palpites a que tentamos conferir alguma verossimilhança. Tento evitar os clichês, mas não foram poucas as vezes, nesses dez últimos anos, em que senti a presença do meu pai. Soa estranho. Cheguei a vê-lo, sentado numa cadeira, como que me olhando. Fiquei atônito com aquilo, até que sua imagem desapareceu e disso, acho, não falei até hoje com ninguém.
Senti-o perto, de verdade, quando nasceu o Luc Júnior. Seria impossível não elevar algum pensamento à memória dele naquele dia, o dia em que talvez pudesse ter a maior alegria da vida, a de tomar o neto nos braços. O menino chegou, a vida já tinha ido. E, volto ao clichê, senti que estava ali, conosco, quase que como podendo nos abraçar. Talvez nos tenha abraçado.
As pessoas vão, a vida continua até quando achar que deve. A saudade revela virtudes dos que se foram, coisas que não se reconhecem em tempo hábil para as devidas manifestações de admiração, gratidão. Relembrá-las, ao fim das contas, acaba sendo um exercício eficiente para que tornemo-nos melhores.
E lá se vão dez anos sem o seu Neinha. Saudades, pai. Não sei como funcionam essas coisas, mas talvez a gente ainda se encontre num plano qualquer por aí. Por enquanto, vá desculpando qualquer coisa.
2 comentários:
Com certeza seu Pai esta olhando por voce de onde estiver.
Você, caro amigo, nos presenteia com um texto maravilhoso. Não que os outros não o sejam, mas este, em especial, ao provocar um nó na garganta, supera os outros. Você, por vezes, não dá o devido valor para o seu próprio talento. Pois saiba, caro Luc, você é um dos melhores.
Abraço fraterno.
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