Ciro, ou Cícero César, foi parceiro do início de carreira, no caso o meu. E o dele, também, quando fez as aceleradas de aluguel virarem coisa mais séria, em campeonatos oficiais. Colecionou títulos – três deles de âmbito Paranaense, nas categorias Speed Fusca, Endurance Speed e Marcas & Pilotos, os dois primeiros em 1998, o último em 2001, quando aposentou o carro de corridas e o macacão. Voltou a correr em 2003, Cascavel já tinha um campeonato atrativo o suficiente para tal. Ganhou mais dois títulos e aposentou o macacão de vez.
Mesmo longe do autódromo, Ciro não ficava longe do automobilismo, que invariavelmente pautava os papos dos nossos encontros já mais parcos e sempre casuais. O último deles há três ou quatro meses, e havia anos que não o via. Não sei o que fazia na rua por volta das sete da manhã, levantei cedo para algo que assim exigia, e encontrei o Ciro na pastelaria, eu tomando o meu café, ele, o dele. Dividimos a mesa e alguns minutos de uma sensação de reencontro só não mais agradável por conta do drama que ali ele relatava, da doença que o havia afastado dos afazeres costumeiros. Pediu e anotou meu número de telefone, prometeu ligar para combinar um café, já que da cerveja estava afastado havia tempos. Dispensou minha oferta do café, pagou o dele e o meu e foi embora. Fui revê-lo hoje, miúdo, inerte, sem vida.
Semara, a esposa, a seu lado permaneceu até a última volta da corrida – num primeiro estágio, fazendo o possível para nela mantê-lo; num segundo, já permitindo que Ciro fizesse o pit stop que o esforço hercúleo para viver já lhe exigia. Contou-me que, dias antes de dar entrada pela última vez no hospital, Ciro pediu para visitar o Jorge, pessoa que vi-o equiparar em carinho ao próprio pai. Falava de Jorge Stumpf, o chefe de equipe com quem criou forte laço, que o acompanhou da primeira à última acelerada. A quem amava. Prometeu, Semara, que providenciaria a visita solicitada para dias depois, quando ele, Ciro, estivesse menos fraco. Não houve tempo. Jorge também foi vê-lo instantes atrás.
Durou pouco minha visita ao Ciro, e não teve café, esse fica para uma outra corrida. Durou pouco, também, o Ciro. Tinha 48 anos, uma devoção invejável pela companhia dos dois filhos e energia de dar inveja. Foi essa energia seu combustível na corrida que terminou ontem à noite. Foi uma das poucas que Ciro acabou perdendo.
1 comentários:
Não pude conhecer o Ciro pessoalmente por desencontros da vida, mas mesmo sem conhecê-lo sempre tive um profundo respeito e admiração por tudo que ele fez pelo Automobilismo Paranaense.
Um abnegado, apaixonado e perseverante.
Mesmo sem conhecê-lo, chorei lendo esse texto, especialmente sobre a visita dele ao Stumpf.
Vai com Deus, Ciro. O Automobilismo está mais triste sem um cara como você!
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