quarta-feira, 2 de junho de 2010

O câncer, Gilnei e Kau

Nesta semana perdi um amigo. Gilnei Faoro, ex-piloto e sarrista dos bons, entregou os pontos na luta contra o câncer, falei dele aqui ontem. O câncer, essa maldição que sacrifica tantas vidas a cada fração de tempo.

Exemplos não faltam, e é bem possível que cada indivíduo tenha um a citar, de que o câncer tem deixado gradualmente de ser sinônimo incondicional da morte. Ao mesmo tempo que que lamento a partida de Gilnei, sinto-me feliz pela vitória de outro amigo, também piloto, em sua luta contra a doença.

Cleudir José Machado, o "Kau", a quem não vejo já há um bom tempo, passou maus bocados. E os superou. Cito seu exemplo transcrevendo cá, ipsis litteris, matéria assinada pelo meu sócio Clóvis Grelak, que foi publicada pela revista Diference.

A CORRIDA PELA VIDA NA LUTA CONTRA O CÂNCER
Do diagnóstico à cura, o drama vivido pelo piloto Kau Machado

Parte I – A vida como era
Tudo transcorria bem com a vida do empresário e piloto de carros curitibano Kau Machado até o início de 2009. Família unida e os negócios indo bem, apesar dos prenúncios da crise mundial que se avizinhava, nada poderia supor surpresas desagradáveis. Muito menos com relação à sua saúde, pois não tinha vícios e cuidava do corpo com a dedicação de atleta, que era. Mas os fios que tecem a linha da vida por vezes revelam meandros inesperados, alguns terríveis. Assim, o quê para Machado era um sintoma de gripe que o acometera num fim de semana quando voltava de sua fazenda em Guarapuava, revelou-se ser leucemia.

Parte II – O encontro com a doença
Apesar da estrutura espiritual e do desapego das coisas mundanas, Kau sofreu um duro golpe quando o médico o reuniu à família para comunicar o diagnóstico. A doença era Leucemia Mielóide Aguda, uma alteração genética em que células tornam-se cancerosas podendo ocasionar tumores na pele e meningite. “Pedi a Deus que, se eu fosse merecedor, que eu sobrevivesse, que o tratamento não fosse doloroso, que Ele me ajudasse”, revela o piloto. Ele reuniu a família, a esposa Eva Márcia e os filhos Eduardo (26), Andressa (23) e Mayara Carolina (17), e distribuiu a função de cada um nós negócios e na entidade social que mantém. “Informei-os de que, a partir daquele momento, tudo era com eles. Eu iria lutar pela minha vida”, relembra emocionado.

Parte III – A luta pela vida
O tratamento foi longo, penoso. Ele ficou 105 dias internado, dos dez meses em que se tratou, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, pelas mãos do doutor Eurípedes Ferreira, considerado uma referência no transplante de medula. “Além da competência do doutor Eurípedes, do doutor Selmo e da equipe, suas humanidades e espírito de doação são ainda maiores”, reconhece Kau Machado. “Jamais esquecerei o que fizeram por mim”. Machado reagiu bem às aplicações de quimioterapia, mas também considera que seu condicionamento de automobilista ajudou-lhe a manter o foco na cura, “na concentração, para segurar a barra”, segundo suas palavras, sobretudo nos períodos em que ficou isolado da família e de todos no hospital.

Parte IV – A rede irmanada e a cura
Além da fé em Deus, da competência médica e do apoio da família os amigos foram determinantes para sua cura. Grupos do meio automobilístico e outros se irmanaram numa rede de orações e apoio espiritual, com mensagens que chegavam a Kau no hospital por meio da esposa Eva Márcia, e de logística, para doação de sangue. “Houve o caso de uma funcionária anônima do HSBC, a qual não consegui ainda descobrir quem é, para agradecer-lhe, que mobilizou pessoas para doar o sangue que eu necessitava”, destaca. Esse processo, como é comum nesses casos, lhe permitiu uma introspecção profunda, buscando no recôndito d’alma reavaliar a vida. “Entendi que Deus me deu uma segunda chance”, ele crê. Dia 07 de março de 2010, os exames mostraram curado. Já até marcou sua voltas às pistas na metade deste ano, no evento Stock Car, na categoria da Pick Up Montana. “Para provar a mim mesmo que estou como antes”, frisa.

Parte V – Solidariedade
Kau Machado mantém há 15 anos o projeto social ‘Natal das Crianças Pobres’, em Palmital, Paraná, cidade onde passou sua infância pobre. Um trabalho que define como de “conscientização social”, em que distribui presentes de natal para aproximadamente 600 crianças pobres além de cestas básicas para as mães delas. Foram 144 cestas em 2009, com previsão de 350 para o natal deste ano. “Conheci as necessidades quando era pequeno, por isso ajudo essas pessoas carentes”. Em uma dessas ajuda a que se refere, encaminhou a Curitiba para tratamento uma daquelas crianças, que tinha deficiência de crescimento, e viabilizou o tratamento adequado. “Possibilitar isso àquela criança é como devolver um pouco do que Deus me deu”, diz com um sorriso que quase se transformou em lágrimas ao término da entrevista. Ressalte-se ainda que, quando da reunião em família no hospital, ao tomar conhecimento do diagnóstico, manifestou desejo expresso de continuidade do projeto social, sob qualquer circunstância. Esse ato de nobreza num momento em que se via numa esquina da vida, já vale uma existência.

1 comentários:

Marianna Leão disse...

Exemplo de vida e de ser humano,todos deveriam saber sua história para aprender com ele,se todos fossem assim o mundo seria diferente mas chegamos lá.