quinta-feira, 29 de abril de 2010

Prêmio Amop com velocidade. Será?

Luciano Barros, parceiro das antigas e assessor de imprensa da Amop, telefona gentilmente para convidar ao café-da-manhã desta sexta, na sede da entidade. A ocasião vai marcar o lançamento de alguns eventos anuais, dentre eles o Prêmio Amop de Jornalismo.

É a quinta edição da briga de foice entre escribas, radialistas e gente de TV pelos cheques que a entidade destina aos três primeiros colocados de cada categoria. A cada ano, as matérias publicadas ou veiculadas seguem um tema diferente. Participei duas vezes. Por algo perto de birra, sempre com conteúdos ligados ao automobilismo de competição.

Quando o tema foi "Bandeiras de desenvolvimento", escrevi sobre as pistas de corrida aqui da região, as que existem, as que ainda não existem e as que deixaram de existir. Uma firulada sobre o impacto que essas praças têm sobre as economias e sobre as vidas das pessoas normais que as circundam. Noutra vez, com o tema "Turismo rural", falei sobre as arrancadas de tratores, que nasceram aqui pertinho, na simpática cidade de Maripá.

Casualmente, vasculhando arquivos antigos no computador no começo da semana, encontrei a matéria dos tratores velozes. Que reproduzo logo abaixo, alertando para a falta de atualização de dados, principalmente os numéricos - tal qual lanço-o aqui, o texto foi publicado na edição de 12 de outubro de 2008 no jornal O Paraná. Feliz ou infeliz coincidência, foi um fato daquela data que determinou minha saída do jornal duas semanas depois.

Enfim, amanhã vou economizar os goles de leite com Toddy, pãezinhos e biscoitos Negresco que costumam compor meu desjejum aqui em casa e vou à Amop beliscar uns canapés. E, dependendo do tema que anunciarem, sair à caça de um link com o automobilismo para concorrer de novo.

Vai que dessa vez consigo vaga na final.

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Agricultores cultivam lazer e
festejam boa colheita de fãs



ARRANCADA DE TRATORES | Modalidade ganhou pista específica e projeta a cidade em todo o país

Luciano Monteiro

Maripá – Ao longo da última década, a agricultura foi bombardeada com uma sucessão de inovações tecnológicas. Sementes e grãos com conteúdo modificado à luz da genética, variedades de culturas tendo seus princípios submetidos à influência do conhecimento humano e soluções que defendem a fertilidade de solos mesmo sob um processo contínuo de plantio e colheita obrigaram o homem do campo a se despir da pecha de “colono” com a qual já era habituado para tornar-se, à custa de estudos específicos e constantes, um empresário do campo.

A inevitável adaptação da agricultura aos preceitos do século 21 não ficou restrita ao toldo biológico. As máquinas, a um ritmo ainda mais intenso, têm incorporado itens capazes de otimizar a produtividade e conferir a seus operadores níveis de praticidade e conforto imagináveis, pouco tempo atrás, apenas em automóveis luxuosos. Nessa safra de transformações tecnológicas marcantes, agricultores do Oeste do Paraná decidiram lançar mão de artifícios técnicos para fazer com que máquinas de uso estritamente agrícola cultivassem, também, seu próprio lazer.

Foi assim que nasceram as arrancadas de tratores em Maripá, distante 90 quilômetros de Cascavel e que ocupa o quinto lugar no ranking paranaense de qualidade de vida. As práticas são tradicionais na cidade desde o início da década de 90, época em que eram promovidas aleatoriamente na Avenida Farrapos, no centro da cidade. A profissionalização das disputas no cenário esportivo ocorreu há cinco anos. “Hoje, as arrancadas de tratores são um evento bastante sólido”, observa o agricultor Heinz Schreiber Júnior, 43 anos, organizador das provas.

A origem do esporte que chama atenção nos quatro cantos do Brasil e até fora dele – em setembro, os pilotos competiram na cidade paraguaia de Iruña – é identificada na história no ano de 1989. Um encontro informal de produtores emoldurou a iniciativa de promover uma disputa entre eles próprios, cada qual com o trator que empregava em suas lavouras. O desafio tomou a avenida e teve como reflexo imediato uma aglomeração bem maior do que se podia esperar. A pequena Maripá viveu, naquela tarde, uma movimentação sem precedentes.

A primeira iniciativa mostrou a todos os que a presenciaram que as arrancadas de tratores poderiam ganhar consistência. “Foi uma experiência que despertou muito a curiosidade dos maripaenses. Quem participou queria participar de novo, quem só assistiu não via a hora de poder ver aquilo de novo, os poucos que não tinham visto o que fizemos naquele dia nos perguntavam quando aconteceria mais um desafio daquele”, recorda Schreiber Júnior. “Nossa idéia inicial foi a de viabilizar algum lazer para os produtores, mas vimos que a coisa poderia ficar bem maior”.

O ambiente encontrado pelo grupo de pioneiros em arrancadas de tratores para fomentar a nova modalidade foi a Festa da Orquídea, evento que até os dias hoje figura com destaque no calendário de eventos de Maripá – a epífita é tida como símbolo da cidade. “Conseguimos reunir centenas de tratores para uma exposição e um desfile e selecionamos uns 15 para deles que fossem colocados nas provas de exibição”, lembra Schreiber. As competições passaram, então, a constar da programação da festa anual, sendo anunciadas entre as principais atrações.

Apesar de concorrido, o evento com tratores padecia da falta de infra-estrutura adequada. Os participantes tinham ciência de tal panorama. “Naquela época, era tudo muito artesanal. Os mais ousados modificavam o turbo, alteravam a bomba de combustível para aumentar a injeção de óleo diesel. Todos os tratores tinham o mesmo visual rústico que podíamos encontrar na lavoura em qualquer dia da semana”, lembra Schreiber Júnior. “Íamos para a pista no domingo e na segunda-feira começávamos a restabelecer as características originais dos tratores”, conta.

A solução para a falta de estrutura veio em 2002. Convencido pela tradição que as competições da modalidade já arrebatavam, o então prefeito Dorival Moreira autorizou e mandou executar a construção de uma pista de asfalto com extensão de 400 metros para acolher as provas. O nome “tratoródromo”, adotado em princípio a título de piada, foi patenteado. Em pouco tempo, incorporaram-se aos arredores da pista os pavilhões que compõem o Centro de Eventos. A obra teve custo aproximado de R$ 250 mil e alavancou as ações turísticas em Maripá.

O advento do tratoródromo veio acompanhado de uma notável evolução técnica dos tratores. “Já era outra realidade. As provas continuaram sendo disputadas por produtores rurais, mas os tratores passaram a ser destinados exclusivamente às arrancadas. Criamos um regulamento técnico próprio e as equipes investiram o que podiam para incrementar seus equipamentos”, ressalta Schreiber Júnior. “Os tratores que temos na pista hoje não apresentam não só inovações e desempenho, mas também um visual muito bonito e diversificado”, ele observa.

O desenvolvimento empreendido pelas equipes faz tratores que nasceram com capacidade para desenvolver 35 ou 40 quilômetros horários de velocidade final atingirem impressionantes 140 km/h nos 200 metros de cada arrancada. “As pessoas do campo têm representado maioria do público nos eventos. De uma forma ou de outra, o agricultor identifica um lado dele nas competições, isso é espontâneo, ele vê do que um trator é capaz. E as provas têm atraído pessoas de outros meios para motivos ligados à atividade rural, é como um intercâmbio”, ilustra.

As arrancadas de tratores consolidam como sucesso de público uma disputa que nasceu como opção de lazer para os produtores da pequena cidade, que tem hoje cerca de 5.700 habitantes. “Quando os tratores vão para a pista, reunimos mais de 10.000 pessoas”, contabiliza Schreiber. “É praticamente o dobro da população de Maripá. Recebemos gente de toda a região, de todas as faixas etárias. Sem querer, criamos um certo tipo de culto aos tratores”, orgulha-se. O tratoródromo voltará a receber as provas da modalidade nos dias 15 e 16 de novembro.

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