Há pouco, enquanto aguardava a abertura dos portões da escola do Luc Jr. para desová-lo lá dentro, encontrei uma ex-colega de faculdade. Que se formou em Jornalismo um ano antes de mim, já que parei em 2007 porque o moleque havia acabado de nascer e, mais preponderante, minha paciência para a faculdade já havia se esgotado.
Fazia tempo que não a via. Aquele papo-padrão, oi, está morando onde, casou, não sabia que tinha filho – e não tinha mesmo, o moleque agarrado à bolsa da moça é seu sobrinho –, o que tem feito da vida... Nessa hora, a resposta dela veio de bate-pronto: “Tudo, menos exercendo”.
Ter diploma de Jornalismo e não exercer a profissão não é privilégio exclusivo da minha amiga. É condição em que vejo muitos amigos, todos com canudo na mão, cada qual tratando de suas vidas por outros meios. Triste fruto da indústria do diploma, fomentada pela Fenaj e patrocinada pelas faculdades caça-níqueis que pipocam a cada esquina.
Foi além, minha amiga. “Desanimei, você não tem ideia da proposta ridícula que me fizeram”. Afeito ao mercado jornalístico semiprostituído cá das bandas de Cascavel e destino de já incontáveis relatos a respeito, tentei adivinhar: “Seiscentas pratas por expediente completo”. “Quem me dera. Se fosse isso, até poderia topar”, ela reagiu.
Cabe informar que desde outubro último o piso salarial para jornalistas cá no Paraná é de dois mil e quarenta e nove reais com onze centavos. Poucos veículos o pagam, essa é a triste verdade.
Resumo da ópera. Foi convidada, a minha amiga, a produzir a cada mês pacotes de um número determinado de matérias para uma revista segmentada que circula aqui na região, nem sei o nome, também não diria para não expô-las, a minha amiga e a revista. Ela, a minha amiga, teria de levantar as pautas, produzir o material, encaminhá-lo e ficar na torcida para que, numa matriz não sei do quê, suas matérias fossem aprovadas para publicação. Claro, todo esforço seria recompensado, e a cada matéria publicada ela receberia a polpuda quantia de cinquenta reais. Que não seriam pagos em barras de ouro, que valem mais do que dinheiro.
Conta a minha amiga que evitou ser deselegante, achou por bem agradecer o convite e dizer que, nesses termos, não poderia aceitar a proposta. E disse que a resposta da proponente veio seca: “Tudo bem, o que mais tem aí na cidade é jornalista formado atrás de emprego”.
De fato, é o que mais há por estas bandas. Num cálculo de bases grotescas, desde que o curso de Comunicação Social chegou às nossas senzalas, isso aconteceu em 1999, só em Cascavel saíram formados uns 600 ou 700 novos jornalistas. Quantos de fato atuam como jornalistas – ou professores de Jornalismo, outra opção –, não sei precisar. São poucos. Um levantamento que daria uma pauta interessante por parte de qualquer veículo que não faça transcenderem ao campo do rabo preso suas ligações comerciais com as instituições de ensino superior.
Já expus aqui, em outra oportunidade, minhas considerações sobre a tão propalada obrigatoriedade do diploma. Ninguém me tira da cabeça, e ninguém tem interesse em tirar, que a defesa tão ostensiva da Fenaj à obrigatoriedade do diploma é fruto de um repasse financeiro periódico por parte das faculdades. É o que acho, quando tiver certeza ou prova concreta paro de achar e passo a afirmar.
Há tempos, um conhecido me alertou para cuidar com o que escrevesse sobre temas polêmicos, e se a memória não me trai o conselho valioso decorreu de algumas linhas sobre faculdades de Jornalismo e diplomas obrigatórios. O alerta foi de que eu poderia enfrentar sanções, punições e outras pragas do gênero. Isso não me preocupa. Agora tenho diploma, digo e escrevo o que quiser sobre quem quiser, assino embaixo (ou em cima, isso depende dos padrões gráficos de quem publica) e o máximo que vai me aborrecer será a inconveniência de eventuais réplicas.
2 comentários:
Vim parar neste blog por indicação de um amigo, que disse que eu ia gostar do post. É a mais triste realidade a exploração atual, ficoi revoltada.
Sou favorável ao diploma como material exigível em concurso público.
Acho deprimentes muitos cursos caça-níqueis de CS.
Sinto tristeza pela ilusão de tantos colegas de ver sua vocação depreciada.
Lamento não haver pleno emprego para quem tem curso superior.
Em suma, neste país, todos somos candidatos a "Jeremias", de tantas lamentações que somos obrigados a fazer.
Subscrevo seu texto, porque ele é a pura verdade.
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