terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Meu primeiro amigo

Estava lembrando aqui, Pedrão, que coisa boba foi o começo da nossa amizade. Classe inicial do primário, era 1984. Éramos quase 40 fedelhos naquela sala de aula no Jardim Maria Luíza, lembra?, e fomos logo nós dois a criar uma empatia.

Pois é, Pedrão. Analisando assim, posso dizer que você foi meu primeiro amigo. E era uma puta coincidência a gente morar perto um do outro, íamos pra escola juntos e juntos voltávamos pra casa, eu sempre parando duas quadras antes de você, mas quase sempre trocava a mochila por algumas bolitas no armário de brinquedos e lá íamos nós pra sua casa jogar às brincas, lembra disso?

Eu só não gostava de jogar com o Zé, que era mais velho e ganhava todas as partidas, mas o Zé era gente boa. Você teve o irmão mais velho que eu não tive. Anos depois, você sabe disso, o Zé virou meu parceiro nas atividades do grupo Mensageiros, e também parceiro de festa. Você e eu já tínhamos perdido contato.

Mas isso foi bem depois. Você e eu fizemos todo o primário juntos, foi uma convivência legal. Era legal nossos pais, os meus e os seus, terem se valido disso para criar, também eles, uma amizade legal. Fomos nós os responsáveis por isso, até hoje sua mãe frequenta a casa da minha, e a minha frequenta a casa da sua, e trocam coisas e convivem bem. Olha só que coisa legal a gente fez.

Até o segundo ano éramos você e eu indo pra escola, maioria das vezes a pé, poucas delas tomando carona na Kombi velha do meu pai. E quando mudamos, meus pais e eu, do Jardim Dona Juraci pro Parque São Paulo, lembra? Ficamos um tempo sem dividir o trajeto casa-escola, mas foi bem pouco tempo, lembro que logo vocês também baixaram lá pro Parque, sua casa nova bem em frente à nossa mercearia. Mundo pequeno. E no terceiro já éramos três, sua irmã mais nova entrou no primário, e lá íamos os três rindo e contando bravatas até que a sala de aula chegava. E na volta, eram mais e mais histórias. A gente arrumava bastante assunto, e se contentava com qualquer coisa, era divertido.

Aí concluímos o primário, e fomos pro ginásio, não lembro se você perdeu o prazo para a matrícula ou se tinha ido para outro colégio, mas lembro bem que logo você voltou pro colégio do Parque São Paulo, e não tinha mais vaga no turno da manhã, e lá fui eu cheio de autoridade falar com o diretor para abrir pra você a vaga de um ex-colega, desistente, e não houve acordo. Perdemos a convivência naquele 1988, mas no ano seguinte a gente foi junto pra fila da matrícula, pra não haver erro. Bom que nessa idade não havia malícia, senão seríamos chamados de viados.

E demos azar no sexto ano, conseguimos o mesmo turno, mas fomos parar em salas diferentes, eu na C e você na A, e gastávamos os minutos do intervalo de recreio mexendo com as meninas da quinta série, a Karen e as amigas dela, e elas não davam a mínima bola pra você ou pra mim, e estava tudo ótimo. É, a gente estava começando a olhar de um jeito diferente pras menininhas, e morria ali qualquer risco de sermos chamados de viados, enfim.

E a primeira vez que pisei na redação do jornal, lembra? Era julho de 1988, e quem é que estaria lá comigo se não fosse você? Fomos os dois visitar o estúdio do chargista, e eu voltei lá muitas vezes, e já contei isso pra galera que me lê por aqui, eu estava encantando com aquilo, com aquele ambiente que não te chamou tanta atenção. Sabia, Pedrão, que foi por causa daquela tarde em que a gente se enfiou num ônibus pra ir conhecer uma redação de jornal, e mal tínhamos feito 11 anos, que virei jornalista e narrador de corridas? É disso que vivo hoje.

Pois é, Pedrão. Passado o ginásio, a gente perdeu contato. Eu via você vez ou outra lá mesmo, trabalhando no jornal, não sei bem qual era seu contato no predinho ali ao lado, mas era ali que eu via você estacionar rapidamente aos fins de tarde, não sei se pra pegar documentos, ou buscar a namorada, ou o quê. Na verdade, ficamos anos sem contato, algo imperdoável, um erro a que nossas mães não se permitiram, acho que elas não passam uma semana sequer sem se falar. É bonita a amizade delas, e você e eu podemos nos orgulhar, digo de novo, fomos nós que proporcionamos isso a elas.

Até que voltei a encontrar você lá no Pantanero, no boteco onde toco umas modas sertanejas com a minha esposa. Lembro de ter visto você curtindo nosso repertório por lá, algumas noites. Da última vez, inclusive, cumprimentei você rápido e tirei o time. Se eu ficasse ali por perto da sua mesa arrumaria encrenca em casa. Pedrão, de onde saiu aquele time de mulheres bonitas que estava com você na mesa? Quatro ou cinco? Você daria conta do recado? Rapaz...

Então, Pedrão, essas dúvidas bobas daquela noite lá no bar, infelizmente, vão comigo pro caixão. Que merda, Pedrão. Eu aqui, longe, e recebo a notícia de que mataram você. Porra, mataram o meu primeiro amigo. A facadas, uma crueldade que dói em mim. Escrevo pra você e os olhos marejam, vou parar por aqui. Desculpa aí, Pedrão. Sou emotivo até com coisas bobas, que dizer de saber que fizeram isso com você.

O mundo é uma merda, Pedrão. Tomara que aí seja melhor. Quando eu chegar você me conta, meu brother.

3 comentários:

Anônimo disse...

Porra Luc,

até eu que não coonhecia o Pedrão fiquei triste. Parabéns pelo texto.

Abs.

Rogério Tranjan
Passat #44, o Trovão Azul
Rosito Gaidarji Motorsports

Ronei Rech disse...

Faço das palavras do Rogerio as minhas.

INfelizmente o nosso mundo tem dessas coisas.

Força ai parceiro.

Abraços

ROnei Rech

Clayton Andrade disse...

Muito legal você nos prosporcionar conhecer essa história de amizade, força Luc!