sábado, 6 de fevereiro de 2010

Bebuns delivery


Há tempos, minha esposa fala em inventar alguma coisa. Inventar, no sentido próprio da palavra. Criar algo útil para a humanidade cuja patente renda uns bons caraminguás. Não é preciso esforço ou criatividade para isso, necessariamente. Um sujeito no Havaí, por exemplo, meteu a tesoura num par de pés-de-pato para improvisar um par de chinelos de dedo, o improviso virou moda e está faturando às turras.

Admiro a pré-disposição da Juli em criar algo que possa valer uns dinheiros, talvez o nome dela nalgum registro qualquer. Eu, mesmo, às vezes me pego pensando em algo do gênero. Cheguei a inventar, digamos, o transporte de bebuns, até por conviver invariavelmente com vários deles, e também por conhecer, digamos, o outro lado do balcão. Sou sedentário por excelência, jamais cheguei a otimizar um croqui a respeito. Com a lei seca, os taxistas levaram minha invenção à prática. Eu iria pôr a ideia no papel no dia seguinte à promulgação da lei. Juro.

Hoje, de saída para o supermercado, presenciei uma versão um tanto mais rústica do serviço que um dia imaginei. Portão afora, vi um carroceiro tentando levantar de seu veículo de tração animal um sujeito que estava mal. À primeira vista, pensei tratar-se de uma emergência médica ou coisa que a valesse, dispus-me a ajudar. Mas sua carga viva era nada menos que um pau d’água. Torto de canha, como dizem por aqui.

“Passei ali pelo bar do seu Luís e ele me pediu para trazer o cara duas esquinas para baixo. É essa”, informou-me, com presteza, o carroceiro. Seu único problema era que o desconhecido passageiro, além de não ter forças para deixar a carroça, não queria sair de jeito nenhum. As energias que armazenava foram suficientes apenas para repetir umas três vezes a frase “falou pouco e disse tudo”, sobre as minhas intervenções na cena patética.

O carroceiro, coitado, cansado após um sábado de trabalho coletando papelão e plástico selecionado, foi paciente. Muito paciente. Até que a paciência acabou. Resolveu, de supetão, pôr fim à carona forçada. Desembarcou seu passageiro a muques próprios. O bebum encostou-se na carroça para não cair. Foi removido à força e, com reflexos comprometidos, foi vencido pela lei da gravidade, conforme mostra a foto acima. Ah, sim, ele perdia sangue por um ferimento atrás da orelha, deve ter apanhado no boteco do seu Luís, ou talvez perdido equilíbrio por razões inexplicáveis. Acho que preciso desenvolver melhor minha invenção. Não quero ser lembrado daqui a alguns séculos por ter patenteado algo de consequências violentas.

E a foto, apesar de eu ter eliminado sua base, também revela que a grama em frente à minha casa precisa ser aparada com urgência. Alguém se habilita?

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