terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Reinício sem sotaque

Vim a São Paulo pela primeira vez no ano para o relançamento da Scuderia Iveco, da Fórmula Truck. A marca, a título de informação já divulgada onde de direito, passa a ter o Pace Truck da categoria, que será conduzido pela bela e simpática morena Mariana Felício, ex-BigBrother, filha de caminhoneiro. Os pilotos que vão buscar vitórias pelo time vermelho são Beto Monteiro, que segue na equipe para onde foi no ano passado, e Cristiano da Matta, que volta a competir quase quatro anos depois do acidente que poderia ter encerrado sua carreira num teste pela Champ Car em Elkhart Lake.

Monteiro, o Beto, já é parceiro de longa data. Com Monteiro, o Cristiano – é seu nome do meio, herança de mãe –, o contato nasce a partir de sua chegada à Truck. Desde há muito, um dos sujeitos que mais admiro no automobilismo. Conheci-o em dezembro, nas 500 Milhas de Kart da Granja Viana. Foi quando matei a charada que seria ele o novo piloto da equipe, não sei por que cargas d’água eu apostava em Jacques Villeneuve.

À tarde, antes do evento, encontramo-lo no saguão do hotel. Num longo papo comigo e com Luiz Silvério, “Kiki”, o apelido é de infância, mostrou-se dono de uma memória invejável. Relembrou com detalhes da pista de Cascavel, onde correu uma única vez, em 1994. "E como não lembrar de uma curva como o Bacião?", justificou. Foi sua estreia na Fórmula 3, uma prova da qual saiu como vencedor depois de uma boa disputa com Helio Castroneves.

Essas conversas ocasionais com pilotos são coisa que me agrada. Entrevistas são protocolares e impõem um enredo. Num bate-papo, fala-se de tudo. Cristiano gosta de falar. Falou da guitarra que toca desde os 12 anos, da facilidade na pilotagem em ovais, definiu o automobilismo esportivo como exercício pleno da física, avalizou que Bia Figueiredo pilota muito melhor que Danica Patrick, contou histórias da trajetória do pai multicampeão de automobilismo. Ah, também arriscou um suco de laranja como os que Silvério e eu tomávamos, mas desistiu quando percebeu que havia vodca adicionada. Alegou que não bebe álcool antes de trabalhar. Também digo isso, às vezes. Tomei a bebida dele.

Roqueiro e ciclista, Da Matta construiu uma carreira como poucas no automobilismo. Trajetória que foi descrita de forma descontraída nessa entrevista aqui, concedida dois meses atrás ao colega Marcus Lellis, do site Grande Prêmio. Campeão de F-Ford, de F-3, de F-Indy Lights, da Champ Car. Agora, aos 36 anos, vem buscar o sucesso pilotando caminhões. Seu discurso é o da cautela, da necessidade de aprendizado e adaptação. Quem já o viu em ação, à revelia das limitações que ele próprio manifesta, aposta em mais.

Ganha muito, a Fórmula Truck, com a chegada de um sujeito do quilate de Cristiano da Matta. E “não tenho sotaque” é sua frase mais divertida, recorrente em suas manifestações. O sotaque denuncia-lhe a origem mineira às primeiras sílabas.

1 comentários:

Silvia Faustino Linhares disse...

Parabéns por essa matéria, como sempre só acrescenta à história do nosso automobilismo.

abraços
Silvia