Na fila do embarque cá para Curitiba, onde aguardo a conexão para o Rio de Janeiro, cruzei Maurício Kubrusly, o repórter de estilo irreverente que produz e apresenta as reportagens do quadro “Me Leva, Brasil”, do global Fantástico.
Não é todo dia que se vê um jornalista da projeção de Maurício perambulando por Cascavel. O inusitado levou-me a perguntar-lhe se cumpria missão jornalística. Cumpria, isso é menos óbvio do que possa parecer – poderia, por exemplo, ter proferido palestra para acadêmicos das nossas bandas, como fez a uma turma de Jornalismo há dois ou três anos.
Não era Cascavel, exatamente, o foco do trabalho de Maurício. Veio de São Paulo, na verdade, para cumprir pauta em Tupãssi – para quem não conhece, uma cidadezinha distante 80 km de Cascavel, que abriga qualquer coisa em torno de oito mil habitantes. E que saiu do anonimato na semana passada, diante da constatação que a única unidade lotérica lá existente emitiu o único bilhete premiado na extração de fim de semana da Mega Sena.
Carioca que virou paulista há mais de 30 anos, Maurício esteve em Tupãssi, claro, para medir a quantas andam os ânimos dos munícipes de lá diante da incerteza sobre o destino da enorme sacola de couro contendo 46 milhões de moedas de um real. Quando guardo dinheiro, faço-o assim, em moedas de um real, não é possível que a Caixa Econômica faça diferente, e seguramente o novo milionário também terá seu inesperado patrimônio mensurado em pilhas de moedas de um real.
E o ganhador, encontrou-o?, foi o que perguntei, e Maurício deu prova de que um bom jornalista precisa ter também faro investigativo, e claro que encontrou. “Eu até trouxe um pouco do dinheiro”, sorriu, sacando do fundo do bolso da surrada calça jeans duas moedas, uma de um real e outra de 25 centavos. Maurício também guarda dinheiro em moedas de um, isso deve ser mal de jornalista.
Pode ser que a matéria produzida em Tupãssi componha o espelho do Fantástico deste domingo. Pode ser. “Se o ganhador aparecer até domingo, a matéria perde o encanto”, justificou Maurício. De fato, perderia a razão de ser.
Luiz Silvério, parceiro de trabalho automobilístico que me acompanha na viagem ao Rio, conduziu para as searas do automobilismo, campo de trabalho meu e dele, o descontraído bate-papo entre a fila do check-in e nossa acomodação nas poltronas do ATR 72500 da Trip, que são revestidas de um azul acinzentado de péssimo gosto. Acho até que é um cinza com ambição se ser azul. Maurício nunca deu trela para o automobilismo, seu contato mais próximo com o mundo das corridas, até a década passada, deu-se nas reportagens sobre comportamento que fez durante vários GPs de Fórmula 1 no Brasil.
De 2002 para cá, de certo modo, o automobilismo passou a fazer parte da vida do jornalista. Luciano, seu filho, é piloto de corridas em categorias nacionais de turismo, atuou em várias temporadas da Copa Clio, que não existe mais, e deverá ser um dos nomes da nova categoria que deverá surgir ainda em 2010 no calendário brasileiro.
“Não sei de onde ele tirou isso, criamos o Luciano numa casa onde ninguém nunca teve nenhum interesse mais específico por carros, menos ainda por corridas”, revelou. “Mas é assim desde pequeno. Sempre conhecia todos os carros, motores, cilindrada, potência... Quando ia comigo ao autódromo, ele me relatava os problemas de cada carro só pelo barulho dos motores”, descreveu, vendendo orgulhoso as façanhas do filho prodígio, como faz todo pai que se preze.
Sabe muito pouco, Maurício, sobre a carreira esportiva do filho. Pareceu não ter conhecimento de alguns dos fatos que comentei das temporadas de convivência com meu xará piloto e das corridas dele que narrei em trabalho de arena. A essa altura, imagino, está um tanto mais atualizado sobre os acontecimentos automobilísticos, já que dedicou parte da vinda a Curitiba a algumas olhadelas na última edição do jornal “MotorSport”, que recebeu de Silvério ainda no aeroporto e elegeu como leitura de bordo.
Domingo, depois do trabalho nas corridas do Porsche Cup e da Fórmula Truck em Jacarepaguá, vou pedir ao garçom de algum boteco qualquer de Copacabana, da Barra ou quem sabe do Recreio dos Bandeirantes para sintonizar o televisor na Globo. Vamos ver Tupãssi no Fantástico, pois.
A menos, claro, que o novo proprietário das toneladas de moedas resolva dar as caras antes disso.
2 comentários:
Caro LUCIANO., sou de Tupãssi e ja deu no noticiario local que o felizardo ja retirou a grana e está no NORDESTE com a FAMÍLIA..
No nordeste com a família? Conversa pra boi dormir. A Caixa não pode divulgar nem o nome nem qualquer outra informação que leve a identificação do ganhador. Isso foi só para despistar.
Obs. tbem sou de Tupãssi e ninguem ainda sabe quem é o felizardo, a não ser o próprio.
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