Meu café da manhã foi indigesto. Primeiro, por ter sido exatamente isso, um café. E um pedaço do sanduíche de que o Luc Jr. não deu conta no aeroporto de Cascavel, momentos antes de embarcar cá para São Paulo. Mas pior que o café foi ver pela tevê, um pequeno monitor com o volume bem baixo, que alguma coisa havia acabado em merda numa escola de algum lugar.
Chegando a Guarulhos, quase quatro horas depois, foi fácil levantar o que havia ocorrido. E lamentar. A chacina na escola do Rio configurou mais um daqueles lamentáveis episódios que nos põem a pensar nos valores da vida, inevitavelmente de olhos marejados. Mais uma catástrofe que relega a espécie humana a uma raça que tem vergonha de si própria. Se não tem, deveria ter.
Agora à noite, vendo os noticiários transformarem a barbárie num show travestido de um estranho tom de revolta e desabafo, emocionou-me o depoimento do policial que matou o assassino da escola de Realengo. Que confessou ter chorado quando recebeu o beijo de uma garotinha em gratidão ao ato heroico que lhe salvou a vida, a dela e a de tantos outros seus colegas. Que falou da emoção ao conversar por telefone com o filho e que a ele prometeu um abraço caloroso no reencontro em casa. Que reconheceu não ter identificado, em combates anteriores com traficantes e outros bandidos, a carga emotiva que o acometeu, a ele e a seus parceiros de farda, em meio a um drama que envolvia tantas crianças. Que me fez fantasiar um agradecimento pessoal à polícia por ter evitado uma tragédia ainda maior.
Treze vidas inocentes postas como preço pela demência de um jovem, provavelmente sucumbente às tantas carências com que pessoas de bem lidam e lutam a cada dia. Por mais que reconheça estar completamente errado, honestamente gostaria que tivesse sobrevivido à besteira que fez para por ela pagar na mão dos homens, nós, esses seres tão irracionais.
Há poucos dias, um acidente numa prova de automobilismo matou um piloto e suscitou um debate acalorado sobre providências que têm de ser tomadas para evitar novos episódios trágicos nas pistas de corridas. E o esporte seguirá perigoso, desafiador, e fatalmente vai custar a vida de mais praticantes sem que se tenha sido feito algo contundente contra isso.
Em medida comparável, as treze crianças tiradas hoje de suas famílias, de seus amigos, de suas vidas, serão por alguns dias os baluartes da revolta com que se vai cobrar tudo aquilo que a nação deveria propiciar sem cobrança – segurança e educação, sobretudo. A poeira vai baixar, todos vão tratar de suas vidas e o preço por tudo isso será pago só pelos que vão levar a seus caixões o aperto no peito, fruto amargo de uma carnificina sem direito a defesa.
Acho que só quem tem filho ou filha consegue entender o que tentei dizer.
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