domingo, 3 de abril de 2011

Gustavo

As últimas quatro horas foram um festival de informações desencontradas, fruto nem sempre grato da dita era da informação e de todas as ferramentas disponíveis para que se propague quase à velocidade da luz qualquer boato ou notícia. Mas o fato final foi um só, o de que o automobilismo custou a vida de mais um jovem.

Gustavo Sondermann completou 29 anos há pouco. Minha convivência com ele restringiu-se às vezes em chamei-o, em minhas atribuições de locução, ao pódio das corridas do GT Brasil. Era um colega de trabalho, enfim, que frequentava os mesmos locais que eu em fins de semana determinados para fazer o trabalho dele, como eu para fazer o meu.

As imagens que vi pela televisão do acidente que o vitimou e de todo o tenso atendimento médico, desde os momentos ainda em pista, trouxeram apreensão a mim, cá longe de Interlagos, e a tantas gentes que vivem o automobilismo nas mais variadas formas. E foi via Twitter que a mensagem do colega jornalista Bruno Vicaria, limitada a um “O pior aconteceu”, pôs fim à corrente positiva pela plena recuperação de Gustavo.

Gustavo era companheiro de equipe de Rafael Sperafico quando Rafael morreu num acidente na última etapa da Stock Car Light em 2007, em Interlagos. Um acidente na mesma curva, muito parecido com o de hoje (a foto dos dois juntos num pódio foi postada no Twitter por Gabriela Sperafico, prima de Rafael). Poucos meses depois, abrindo a temporada 2008, ganhou em Curitiba a primeira corrida da temporada da Pick-up Racing, e ao pódio subiu vestindo uma camiseta que homenageava o amigo morto. Infeliz coincidência.

Surpreendo-me com minha reação de ora. Como disse, tive pouco contato com Gustavo, quase nenhum. Não, não era para o saldo trágico de Interlagos me trazer emoções ruins. Diferente da morte de Rafael, que era próximo, parceiro, companheiro de mesa. Mas trouxe.

Um dia triste, que já suscita os mais variados debates. A semelhança entre os dois acidentes, o de 2007 e o de hoje, norteia maioria deles. À batida que matou Rafael, além da comoção, a comunidade do automobilismo reagiu com pedido de providências. Segurança na construção dos carros de corrida e na reformulação da estrutura do autódromo num ponto da pista que os pilotos contornam a estimados 200 km/h de velocidade, com notável incidência das forças físicas.

É estúpida a caça a culpados pela morte de Gustavo Sondermann. Automobilismo é esporte de risco, e todos que dele tomam parte têm ciência disso. Dirigentes e promotores não matam pilotos. Podem, claro, não prover todas as condições consideradas ideais para imunizar quem se dispõe a entrar em uma pista de corridas, e é isso que transforma a dor da perda em revolta. Seria igualmente estúpido ver algo positivo no que houve hoje, ninguém tem tal intenção, mas Gustavo morreu fazendo o que mais gostava, correr de carros, com todos os riscos nisso implícitos.

Por outras vias, é inevitável a constatação de que nada de concreto se fez para evitar a repetição de fatalidades como a de Rafael Sperafico. E providências serão cobradas de forma mais incisiva nas próximas semanas, com a dor da perda ainda viva, forte, recente. A vida vai tratar de retomar seu curso, com tristezas e alegrias, e submetendo-nos a apelar ao destino para justificar conquistas e perdas.

Um domingo triste, mais um. Que mostra não só o quanto a vida às vezes nos parece estúpida, mas escancara principalmente a estupidez com que se conduzem vários de seus aspectos.

4 comentários:

Rodrigo Dias disse...

Luc, o problema é o seguinte: dificilmente o pessoal não vai achar um culpado. Já vi gente dizendo que a CBA não faz porra alguma - o que é verdade - e esses quetais.

O problema é que o Thiago Marques cantou a pedra logo depois do acidente do Sondermann: quando foi proposta a utilização da chicane que é utilizada na motovelocidade, muitos pilotos acharam que seria "chata" e decidiram não inserí-la. Agora, todo mundo quer...

Tá na hora de, antes de mais nada, todos revermos nossos conceitos sobre automobilismo, segurança e coerência.

Kico Stone disse...

"É estúpida a caça a culpados pela morte de Gustavo Sondermann." Também acho que não é por aí, Luc. Meus sentimentos à família, amigos e comunidade automobilística.

Sanderson disse...

Grande Luc, morte de Sondermann é dolorida para todos da classe automobilística no mundo.
Acidente em Interlagos, um autódromo de nível internacional, na mesma curva aonde Fernando Alonso desmancha o carro de F1, Rafael Sperafico perde a vida, e agora Gustavo Sondermann. Os organizadores apenas lidam com dinheiro a CBA com a vistoria técnica.
Sondermann, piloto promissor e ético, e agora? Esporte tira a vida... ou esporte é vida. Oque falar de tudo isso, usar os superterfugios criados pela mente humana para justificar uma catástrofe? E os amigos, o esporte, família e fãs... fazer o que amigo?
Só lapidação neste mundo temporário... abraços e compreensão aos amigos e parentes.

Erlon Radl disse...

Parabens pelo post, o único que li com coerência sobre o fato.
Automobilismo sempre foi e será perigoso e erros sempre acontecem e acontecerão.