Marcus Zamponi é um dos papas do jornalismo automobilistico no Brasil. É dono de infindáveis histórias e causos que viveu dentro e fora das pistas desde os tempos do epa, experiências que conta de forma prazerosa para ele próprio e para sua audiência seja à mesa de uma lanchonete de autódromo, numa efeméride social, num encontro casual ou em seus memoráveis escritos.
Zampa assina na Racing a coluna "E tenho dito!", leitura imperdível a cada edição da revista. Acabo de lê-lo, inclusive. E, mesmo correndo o risco de tomar um processo da editora Motorpress Brasil por apropriação indevida de conteúdo ou qualquer pecado do gênero, tomo a liberdade de reproduzir aqui suas considerações, publicadas na página 82 da edição 292. Foto e legenda, lá embaixo, são igualmente copidescadas da revista.
Overdose de informação
Como era bom ver uma corrida de F1 ainda que uma semana depois e em preto e branco. Lembro do GP da Inglaterra na estreia de Emerson na F1, quando passou aqui, e a emoção foi imensa.
Hoje, existe um excesso de informação em todos os meios, inclusive na TV. Não é mole ver o excesso de carrinhos correndo. Alguns são ótimos, outros bons e outros... bem, deixa prá lá, que isso dá outra coluna.
Isso me faz refletir sobre a questão que move o mundo – a grana. Será que tem para todo mundo? Para todas as séries? Na opinião de quem vive disso há mais de 40 anos, não. Por maior que seja o apelo mercadológico inicial e a captação de patrocinadores traga um bom início de negócio, a página 2 de cada nova categoria não é saudável.
O filtro do talento, que antes já aparecia nas séries de base, em que os donos de equipe pesavam e conseguiam equilibrar talento e recurso, era e sempre será a melhor fórmula para se fazer as rodas do real automobilismo girar. Hoje, o excesso de organizações e promotoras trouxe, em grande parte, um tumor que pode ser, como qualquer câncer, benigno ou não, mas que sempre cresce.
Talentos foram descobertos e tiveram suas carreiras lançadas por mecânicos, donos de oficina, jornalistas e outros profissionais cada vez menos consultados para análise de jovens promessas. Sinal dos tempos. Quais tempos? Hoje, não raro, vemos os moleques ainda no kart e já com um “caddie mercadológico”, carregando sua pastinha com projeto, proposta etc, como se ali tivéssemos uma nova encarnação de Ayrton Senna.
Como oferecer retorno com esse excesso de informação? Isso é assunto para a Agência de Propaganda OMM – Oz, Mandrake e Merlin, pois só os maiores mágicos de todos os tempos para conseguir alguma coisa nesse caos crescente.
O excesso de informação está até atrapalhando a cabeça de nossos jovens pilotos. Vira e mexe, algum gênio posta no YouTube um vídeo com proezas de carro ou moto, sempre acima dos 200 km/h, se gabando. Quando a coisa entorta e caem de pau, aí o piano toca e foi o cunhado, o irmão mais novo ou o cachorro que estava no comando da barbaridade. Claro que quem corre nas pistas não se sente confortável andando devagar, mas a lei é para todos, não é?
Todos nós que vivemos o automobilismo sempre nos queixamos dos espaços ocupados pelo motorsport na mídia e um aumento na programação sempre é muito bem vindo, mas com o devido controle de qualidade, pois o efeito rebote é um prejuízo maior que a falta de divulgação. Anunciantes e consumidores querem espetáculo, e um trabalho sério e bem feito merece todos os elogios, mas, decididamente, existe uma capacidade de público e de absorção de conteúdo.
A F1, na busca de emoção, encheu-se de um artificialismo absurdo com KERS, asas móveis, pneus que duram poucas voltas e... perdeu o pé. Vettel desceu a lenha no “volante-videogame” com excesso de controles que, segundo ele, põem em risco a pilotagem. Hoje, temos dezenas de ultrapassagens por prova. Você se lembra de alguma?
Banalizar espetáculo e informação é um caminho errado. Novas categorias são bem vindas, principalmente quando trazem grandes marcas e bons pilotos, mas também temos que pensar nas arquibancadas. Elas continuam à míngua e é ali que aparecem os consumidores reais do esporte, os fãs apaixonados que sempre se lembram das cores dos carros de seus ídolos, de ultrapassagens e histórias engraçadas, inesquecíveis como o som maravilhoso de um carro de corrida.
Para todos nós que temos gasolina nas veias, ver uma ótima corrida na TV é muito bom, mas assistir a qualquer coisa sobre rodas correndo vai contra o próprio esporte. Esporte, quando é valorizado, marca e vende. Quando é chato é zapeado. Na hora.
A estreia do piloto Emerson Fittipaldi na F1, na etapa de Brands Hatch de 1970: outros tempos
Esse é o mestre Zampa. Irretocável, como sempre.
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