domingo, 11 de novembro de 2012

O cara que não queria a vitória

PINHAIS - No ambiente de jornalistas que trabalham com automobilismo há várias brincadeiras recorrentes. Uma delas, em que maldosamente tomamos assessores de imprensa por vítimas, diz respeito a um título de press-releases também recorrente. “Fulano quer a vitória”, costumam anunciar os títulos de alguns textos enviados às redações, num exercício de obviedade que chega a beirar o ridículo. É claro que o fulano em questão quer a vitória, ora, foi daí que veio aquela famosa resposta do Nelson Piquet ao jornalista que lhe perguntou se naquele dia correria para vencer – “não, vou correr para chegar em 18º”, falou o Nelsão, do alto de sua irreverência.

Fulano quer a vitória. É claro que todos os fulanos querem a vitória, e só um a terá alcançado a cada batalha na pista. Mas conheço um sujeito que não queria a vitória. O nome dele é Leandro Gambaro Totti. Tem 35 anos, mora em Londrina, é piloto de corridas e, agora há pouco, tornou-se campeão brasileiro da Fórmula Truck aqui em Curitiba. O campeonato sequer terminou, ainda temos uma corrida pela frente, e Totti já é dono da taça, a segunda dele, já que dois meses atrás ele ganhou também a do Sul-Americano, um campeonato à parte.

Era mês de fevereiro quando telefonei pela primeira vez para o Leandro na condição de integrante do time que assina a assessoria de imprensa da Fórmula Truck. Coleta de impressões, expectativas, mudanças, aquilo de sempre. Não quero ganhar nenhuma corrida, foi o que ele me disse, em resposta a qualquer coisa que lhe perguntei. Esse sujeito deve ser maluco, pensei. Até porque já tinha ganhado quatro corridas na categoria, uma por ano, de 2004 a 2007, e desde então não sabia mais o que era pisar no degrau mais alto do pódio.

Não queria ganhar nenhuma corrida. Queria marcar pontos em todas as corridas. Pontuando bem, poderia ser campeão, mesmo se não ganhasse nenhuma corrida. Não faço questão de ganhar nenhuma corrida, essa foi a frase exata do Leandro, lembrei agora. E parecia que não iria ganhar, mesmo. Quebrou na primeira corrida quando liderava no Velopark, abandonou depois de ter liderado algumas voltas na segunda etapa, no Rio. Duas corridas com Beto Monteiro, ex-sócio de Totti num empreendimento esportivo em Londrina, conquistando vitórias.

Aí veio – ou foi, conforme o ponto de vista – Caruaru. Wellington Cirino desencantou, ganhou pela primeira vez no agreste na corrida que marcou seus 15 anos de pilotagem na Truck. Totti desencantou em 2012, o primeiro pódio, quinto lugar. E, depois disso, vieram vitórias. Muitas vitórias. Goiânia, Interlagos, Cascavel, três corridas seguidas, só deu Leandro em primeiro. A corrida seguinte foi na Argentina, etapa final do Sul-Americano. Felipe Giaffone ganhou, Leandro foi terceiro e voltou de lá como campeão continental, e na festa improvisada para o título no restaurante do hotel ele deu as caras bem tímido, como é seu costume, é um sujeito que fala pouco.

Aí vieram Guaporé e Curitiba, mais duas vitórias de Leandro Totti, o título já sacramentado. Depois de estourar o champanhe no pódio, seu discurso mudou. O título já veio, agora vamos a Brasília pensando na vitória, foi o que disse ao microfone do Luiz Silvério, no pódio.

O Totti quer a vitória, agora. Antes não queria, foi buscar cinco em nove corridas. Imaginem se quisesse.

2 comentários:

Fabiani C Gargioni #27 disse...

Parbéns ao Totti, sou fã dele e sempre torci por vitórias e títulos dele. Gosto muito da história deste piloto ou do pouco que sei dela, parabéns Totti. Fica a dica aqui Luc conta a história (mais detalahada) do "Cara" aqui no blog!!!

vitorio soder disse...

Parabens totti....tbm sempre torci por ele mesmo com equipamentos privados sempre mostrou como um piloto tem que andar...ao meu ver é claro piloto tem é que andar é pra frente pra vitória....