Essa vida de cantorias noturnas revela umas histórias interessantes. Como qualquer tipo de outras vidas, creio.
Ontem conheci um sujeito, Jonathan Farias é o nome dele, que me contou uma história interessante. Emocionante, para os menos durões. É músico amador, como são todos os que participam às terças-feiras da “Noite do Artista” lá no Pantanero Bar. E gosta, como dizemos, de bater uma violinha, como todos os que dão as caras lá nessas noites pré-determinadas.
Jonathan, 17 anos completos meses atrás, trabalhava numa indústria de embalagens plásticas, algo assim, deveria ter prestado mais atenção a essa parte. Era operador de uma máquina que, em momento de lastimável descuido, decepou-lhe as pontas de três dedos da mão esquerda, e causou um dano ao indicador, que sobrou inteiro.
É óbvio que o acidente, além de tirar Jonathan do emprego, privou-o do que diz ser seu passatempo preferido, tocar violão. Mas só até a página dois, momento do enredo em que viu-se, pela primeira vez depois de perder os dedos na máquina, em meio à habitual roda de música com os amigos.
Alguém da roda teve de manusear o violão para Jonathan cantar suas músicas de sempre. Caiu-lhe a ficha. “Quando aconteceu o acidente eu não senti dor, mas fiquei triste quando percebi que não ia mais poder tocar. Fiquei triste, mesmo”, contou, como que revivendo os momentos de reflexão de meses atrás.
Foi quando decidiu tirar as cordas de seu violão e recolocá-las em ordem inversa, como fazem os canhotos. Eu ia ficando embasbacado com a naturalidade de cada passo da narração, que Jonathan fez ali, à mesa do bar, enquanto providenciávamos a devida afinação de seu violão para a apresentação que faria instantes depois, no palco do bar.
“Cara, eu pus na cabeça que não ia parar de tocar por causa disso. Acho que Deus queria saber se era isso mesmo que eu queria para mim, acho que consegui dizer para Ele que sim”, foi o que ele me descreveu, textualmente, embora eu não tenha anotado, tenho o péssimo costume de não anotar nada, mas a frase foi exatamente essa. Uma verdadeira profissão de fé, no boteco, com espontaneidade.
Foram dois meses entre a inversão das cordas e o dia em que Jonathan Farias, agora parceiro semanal das Noites do Artista, voltasse a tocar seu violão, agora ocupando o outro lado do colo. Uma marca que meu instituto imaginário DataLuc aponta como recorde intergaláctico.
Vão-se os dedos, ficam os anéis, é o que diz o ditado. Que foi criado para o Jonathan.
1 comentários:
É... eu sei o que é isso, tambem decepei a ponta do indicador esquerdo!!!
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