Vez em quando, nos parcos intervalos da programação aqui no Velopark, consigo uns minutinhos para bater papo com quem aparece pela frente. Não fiquem com dó, não estou tão ferrado assim no trabalho, é que há dois campeonatos com treinos e corridas rolando por aqui e sou pago justamente para narrar tudo isso para quem está no autódromo. Não sobra, mesmo, tempo para papear.
Agora há pouco, parei para bater papo com Murilo Colatrelli. Um dos principais pilotos do TNT Superbike, ganhou a corrida do mês passado lá em São Paulo. Papeamos sobre acidentes, por influência óbvia do ambiente – além do acidente com Newton Patrício, ontem, com pista seca, hoje houve vários acidentes sob chuva nos treinos da motovelocidade e também do Itaipava GT Brasil. Cláudio Ricci acabou com a Ferrari e teve de ir para o hospital, á está tudo bem com ele. Agora, enquanto escrevo, Andreas Mattheis também estampou seu Ford GT. Pela manhã, alguns pilotos de motos também sofreram quedas, nada de mais sério. A pista está quase impraticável.
Pedi a Murilo, confiando em sua experiência de décadas, que expusesse o que há de dificuldade específica para os pilotos de motovelocidade diante da chuva e das características do traçado do Velopark. Segundo ele, o final da reta dos boxes é um trecho bastante escorregadio. “Vai dar chão ali”, anteviu, valendo-se de uma gíria típica de pilotos de motos. Em termos práticos, o que Murilo disse é que vai ter gente caindo ali ainda nos treinos e na corrida.
O piloto da Honda número 74 também manifestou preocupação com o “S da Ponte”, trecho de baixa velocidade da pista. “Ali, se errar, o piloto bate no pé da ponte. Para o outro lado não há área de escape”, avaliou. “A pista não tem área de escape em vários pontos. O pessoal vai ter que pôr a cabeça no lugar”, alertou.
Apesar das observações, Murilo não questionou as condições do Velopark de acolher provas de motovelocidade. “Interlagos é bem pior”, disparou, para minha surpresa. “Se você analisar a subida para o Café lá em São Paulo, vai concordar. As motos sobem ali a 230, 240 km/h. Quando você torce o cabo, a traseira da moto vai patinando em quinta marcha. E se escapar, não tem área de escape”, ilustrou. Torcer o cabo, para os incautos, é o mesmo que submeter a moto à aceleração máxima. Óbvio. “E a segunda perna do ‘S’ do Senna? Não tem para onde escapar. É complicado”.
A lista de possíveis restrições de Murilo Pinhati Colatrelli vai além. “Em Brasília, em praticamente nenhuma curva você tem área de escape. Você é de Cascavel, né? Lá tem o Bacião, é melhor nem comentar... Campo Grande, apesar da curva complicadinha na entrada da reta, até que passa. A única pista propícia para motovelocidade, mesmo, era a do Rio de Janeiro. Aquela pista, quando era inteira, era perfeita”, relembra. Nesse momento, questiono-o sobre o autódromo de Goiânia, também quase falido, mas que segue conceitos de motódromo. “Nunca corri lá, então não posso falar”, respondeu.
Murilo não começou ontem a pilotar motos. Ele sabe o que está falando.
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