A história do evento já deve ter sido contada por quem de direito com seus fatos mais interessantes. Como o BLuc é um espacinho meu e devo ser o único que o lê, faço aqui um registro meu da minha participação no Barrichello Kart Day, anteontem na Granja Viana. Foi a segunda edição de uma farra armada por Rubens Barrichello, onde jornalistas que atuam no automobilismo vão para a pista em provas de kart. Foram 36 participantes, fiquei em 16º lugar, nada mau para alguém que, até então, só havia estado lá para narrar as 500 Milhas do ano passado.
O que passa pela cabeça de Rubens para ter tamanho empenho? Nada mais que dar aos jornalistas, àqueles que noticiam suas atuações nas pistas, a oportunidade de um contato direto com uma ultrapassagem, uma rodada, uma batida, uma retomada de curva, um contra-esterço, enfim, com tudo que um piloto de fato faz. É bem verdade que vários desses escribas são kartistas muitíssimo bem treinados, o que não lhes tira o mérito pela vantagem quase covarde sobre nós, simples mortais. Vamos ao resumo, antes que comece a minha choradeira.
Como contei no post aí de baixo, eu não sentava num kart há uns bons quatro anos. Já podia antever trocadilhos infames como “Luc Duno” ou coisa do gênero. Antes de todos irem à pista, Rubens distribuiu dicas sobre traçado, zebras, retomada, essas coisas. Veio me pedir umas dicas, também, não as neguei. Sou humilde, afinal. Durante tomadas de tempo e corridas, metia-se entre os pilotos na pista, seguia os participantes para analisar o que estavam fazendo, depois pulava à frente para que os jornalistas pudessem ter sua referência de pilotagem. Cortesia que me permitiu acrescentar ao parco currículo apresentado no post anterior “um totó em Barrichello na curva 4 da Granja Viana”, deve ter sido meu maior feito numa pista. Até então, porque na própria prova de anteontem eu consegui fazer história.
Já chego lá, vamos por etapas. Rubens e o capitão Anderson Marsili, que ralou duro para organizar todo o evento festivo, contabilizaram 36 participantes. O suficiente para duas corridas com 18 jornalistas, cada, vê-se que sou um gênio da matemática. Cada prova classificava os oito primeiro para a corrida final. Fui escalado para a segunda eliminatória. Na tomada de tempos, fiquei com o nono lugar no grid - observem ali, o kart número 34, na fila da direita, sou o de macacão azul escuro. E meu drama começou duas curvas depois da largada.
A curva três da Granja Viana, um grampo à direita, foi o palco do primeiro salseiro do BKD. Com um monte de gente rodando por ali, fui lá fora para evitar a confusão. Perdi tempo e algumas posições. Cada volta servia para eu assimilar um pouquinho melhor o traçado, até que meu número 34 apareceu no painel da reta, onde só há espaço para os 10 primeiros. Não faltava muito para conseguir a vaga na final. O oitavo lugar veio a umas cinco voltas do fim. Consegui abrir um pouquinho de vantagem, o suficiente para ficar por ali até o final. Nas últimas duas voltas, depois de analisar as besteiras que eu estava fazendo, Rubens veio à minha frente para dar referência, como na foto lá de cima.
Consegui a vaga na final, cruzei a linha de chegada comemorando feito bobo, acho que Carsten Horst fotografou isso – quero consultar seus copiões digitais tão logo quanto possível. Definidos os 16 nomes da final, o céu fechado e eu preocupado com o horário de tomar o avião de volta, fez-se o sorteio dos karts. Para as eliminatórias, cada um podia escolher o kart que quisesse. Para a final, o sorteio me deu o kart número 25. Bem mais rápido que o da prova anterior. Foi o que começou a me trazer problemas.
Primeiro, porque o kart era tão bom que, nos cinco minutos de tomadas de tempo, fiquei receoso ao final da reta. Não fiz a curva um de pé cravado nenhuma vez. Na “Eau Rouge”, depois da retinha oposta, tinha que dar uma bombeada no pedal da direita, escorregava um pouquinho. Não conseguia me acertar com a zebra da penúltima curva, também, na terceira tentativa de volta rápida saltei por sobre ela. Acabei batendo com a costela na parte de cima da lateral do banco e quase parei por ali mesmo, mas respirei fundo, resolvi continuar. Doía pra cacete, e ia continuar doendo se parasse ali.
Toda essa lambança, claro, me deixou em último no grid. Eu tinha inventado um truquezinho na largada que funcionou na eliminatória, mas acabou não funcionando na final. Fiquei em último até a segunda volta, quando começou o que, uau!, poderia ser uma épica corrida de recuperação. Na terceira volta fiz a minha melhor volta no fim de semana, 49s051, bem melhor que os 49s210 que foi o máximo que consegui na primeira corrida. Na quinta, peguei carona numa tentativa de ultrapassagem ao final da reta, houve um toque, rodei, perdi tempo.
O saldo não era tão positivo na 12ª das 25 voltas. Àquela altura, eu vinha em 12º ou 13º lugar e tinha como meta clara não levar volta do líder, embora não fizesse a mínima ideia de quem estivesse ganhando. No mesmo grampo, alguém rodou à minha frente, não lembro quem era. Ficou parado. Era fácil desviar, mas, por condenável reflexo, fiz um movimento muito brusco no volante. Rodei também, ficamos os dois parados na contramão, fora do traçado. Quando pensei em sair dali, surgiu o kart 38, de um tal Milton. Que, em vez de aliviar o pé e ganhar as posições, cravou lá embaixo. Resultado: veio para cima e me acertou de frente.
Lembram da costela que doeu na tomada de tempos? Pois é, tripliquem o golpe com a pancada frontal do Milton. Acho que não freou, sei lá. Ali, sim, era fim de corrida para mim. Ou não. Dor por dor, vai continuar doendo, pensei de novo, então vamos em frente. E voltei. No primeiro trecho em que precisei frear, percebi que a pancada do Milton tinha arrebentado alguma coisa no meu freio. Não tinha nenhum. Pedal frouxo. Ergui o braço e fui para o box.
Aí, outro drama e outra demonstração de falta de preparo por parte de Crocodilo Dundee, no caso eu. A pista de rolamento dos boxes configura uma descida. E eu chegando ali, sem nada de freios. Um monte de gente andando pelo box. Não fazia idéia de como parar o kart. Tentei forçar o pé sobre o pneu dianteiro direito. Não funcionou. Pus o pé à frente do pneu, vejam meu grau de burrice. O pneu “abraçou” meu pé e o foi arrastando por uns 15 metros. O kart parou, minha tática de frenagem foi muito eficiente. Nem Rubens conseguiu, em toda sua carreira, parar um kart do modo como parei o meu nos boxes. Considerando que por um milagre qualquer eu não quebrei o tornozelo, foi melhor ainda. Vendo como ficou o meu tênis, dá para ter uma ideia da consequência que minha besteira poderia ter alcançado.
Mas fiz história, acho que o Felipe e a Vandeide vão encomendar uma placa com meu nome para exibir no kartódromo, "primeiro a atropelar o próprio pé para parar o kart", e cada vez que alguém olhar para a placar vai rir e dizer "não era mais fácil provocar uma rodada?". Na hora do sufoco, não pensei na possibilidade da rodada, que era a melhor solução, claro.
Eu mal conseguia levantar do kart. Na verdade, não consegui, o pessoal da equipe médica me ajudou. Em princípio, o enfermeiro disse que provavelmente havia uma costela trincada, do que não cheguei a duvidar, aquele voo na tomada de tempos rendeu uma batida realmente forte. De qualquer forma, o tempo passava, havia o trânsito paulistano para me complicar a viagem de volta. Dei um tchau generalizado e vim embora, de macacão, mesmo. No aeroporto, vesti uma jaqueta por cima e tudo certo.
Valeu principalmente por rever a galera das salas de imprensa e dos bastidores de autódromos, parceiros como Alexander Grünwald, Betto D’Elboux, Celso Miranda, Déa Amadeo, Érica Hideshima (que não quis correr), Fred Sabino, Lipe Paiga, Natali Chiconi, Nei Tessari, Rafael Lopes, Rafael Munhoz, Rodrigo França, Téo José (também não correu), Victor Berto, Zé Eduardo Martins, acho que ficou explícita aqui a disposição em mera ordem alfabética. E mais o Felipe Motta, a quem fiz questão de procurar depois da primeira eliminatória para me desculpar pelo toque que nele dei numa disputa por posição, e mais um sem-número de novos amigos.
Munhoz, Luiz Vicente, França, D’Elboux e Cássio Cortes foram os cinco primeiros na corrida. Eu fui levantar o meu troféu já em Foz do Iguaçu, a foto não mente. Assim que cheguei a Foz – moro em Cascavel, mas essa várzea aqui não tem um aeroporto decente, e só tocam nesse assunto em época de eleição –, procurei atendimento médico. Enquanto não vinham as chapas de raios-X, doutor Osmar preparou um coquetel molotov com analgésicos e coisas do gênero. Os raios-X mostraram que não houve fratura nenhuma, só uma forte lesão. Devo estar recuperado pra próxima corrida.
(ATUALIZANDO EM 18 DE AGOSTO, ÀS 12h38)
Para quem ainda não viu, um pouco mais do Barrichello Kart Day pode ser visto na matéria que a japa gente fina Érica Hideshima produziu no dia do evento para o "Linha de Chegada", do SporTV. Vídeo do YouTube:
6 comentários:
eh isso ae... nao importa a dor... um piloto nunca desiste.... pode ate parar no hospital... mas nao desiste!!!
É isso ai Luc com voce nao podia ser diferente. Bola p/ frente e na proxima procure usar um protetor de costelas. Boa recuperaçao. Abraços
Quem manda ser magro, fica dançando no banco do kart. Pergunta pro Tarso, no alto dos seus 100 quilos, se ele alguma vez machucou costela no banco do kart..... hauhuahauhua
Elvis não morreu!!! Olhem a segunda foto, com o Rubinho e um mic da Band!!! rssss
Pois é, grande Luc, o bacana é que a gente tem um campeão como o Rubinho proporcionando esse tipo de evento tão legal.
Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas você, realmente, está devendo o post do Cauby Peixoto.
Ande, rapaz, acelere e escreva sobre o melhor cantor do Brasil!!!
Abraço grande, sucesso e vai cuidar dessa dor!
Aeee meu brother, um campeão é construido assim e sem desistir, ainda vou ouvir muito seu nome... Valeu!!!
Postar um comentário