Essa questão de datas comemorativas tradicionais, por mais insignificante ou subjetivo que o conceito possa ser considerado, acaba mexendo com os brios da gente. Para mim, o Dia dos Pais, que teve origem numa semana de Páscoa, é um desses casos.
Primeiro, óbvio, porque já não tenho mais meu velho por perto, vai fazer dez anos que passou de fase. Segundo, mais óbvio ainda, é porque agora sou eu quem recebe os cumprimentos, as lembrancinhas e o carinho especial da data, coisas que eu sempre tratava de providenciar para o “seu Neinha”.
É o meu quarto Dia dos Pais. Na verdade, o 34º, quarto desde que me tornei pai, é claro. Passei dois desses quatro longe do Luc Júnior. No meu primeiro Dia dos Pais, justamente no primeiro, vi-me tão longe dele quanto jamais estive. Em Pernambuco, eu que moro lá no Paraná. Hoje, de novo, não vai dar para ganhar aquele abraço gostoso. Estou em São Paulo. Meu trabalho me tira bastante de casa.
Juninho é fantástico, acho que todo mundo vê seres fantásticos nos próprios filhos. Às vezes penso que ele tem tudo a ver comigo. Às vezes, pensa à frente do ponto a que a gente imagina que possa ir o raciocínio de um pirralho, como no episódio do canetão, que já contei aqui. Não tento influenciá-lo, tanto é que sou adepto do sertanejo e ele gosta de ouvir rock. Mas de uns tempos para cá, por exemplo, encanou com carros de corrida. Que estão no epicentro de quase tudo que faço.
Até inventamos uma brincadeira em que sou o carro de corrida que ele pilota. Deito, dobro as pernas para formar nas coxas o encosto do banco quando ele senta na minha barriga, ele põe os pezinhos nas minhas axilas (tentei um termo menos afrescalhado para “sovaco”, que julgo muito chulo, mas não achei), dou o indicador esquerdo para ele trocar as marchas, abro o polegar e o mínimo da mão direita para ele usar como volante. Ultimamente ele inventou que precisa parar para arrumar o carro, e com as mãos faz gestos que, me explicou dia desses, são a troca dos pneus. Ele presta atenção às corridas a que eu assisto. É muito divertido para nós dois, talvez contando assim pareça chato.
Juninho preparou na escola a lembrancinha do Dia dos Pais. Coisinhas bobas que emocionam, e por bobas, em vez de algo que se despreze, entendam a simplicidade do trabalhinho de uma criança de três anos. Sei o quanto significa para ele. Ele é que não tem ideia de quanto vai significar para mim quando chegar em casa, terça à noite – acabei esticando a estadia por aqui para atender um outro compromisso –, e receber dele a lembrancinha que ele próprio anunciou por telefone, dizendo que não ia contar do que se tratava porque “a profe falou que é surpresa”.
E vai ser emocionante, o abraço e os parabéns para os quais, imagino, a professora deve tê-lo ensaiado, ou a Juli. Esse molequinho fez a vida valer bem mais a pena. Eu é que tinha de dar a ele os meus parabéns. Escrevendo, aqui, bateu saudade daquela voz aguda, do pique que ele tem e que a gente nunca consegue acompanhar, até do jeitinho de falar como gente grande, que eu acho a coisa mais irritante do mundo em qualquer criança, nele inclusive, mas noto que as crianças de hoje são assim. O abraço que vou ganhar terça à noite vai para a lista das coisas mais positivas do ano, posso apostar.
Sei lá. Às vezes tenho impressão que o seu Neinha está por perto para compartilhar com a gente esses bons momentos.
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