
Que não se observe aqui qualquer menção de reprovação a nada. De fato, e sem maiores cerimônias, pus para fora a refeição servida a bordo e que me fez desembarcar num mal-estar dos diabos às seis da manhã em Lisboa. E no frio, o que não costuma deixar o meu questionável humor em seus melhores dias.
O problema foi que o rango, até bom, mostrou-se incompatível com o preço que meu sistema digestivo tem cobrado pelos maus tratos a que o tenho submetido nas últimas décadas. Nada mais que isso.

Os centenas de metros entre o finger e os guichês da imigração, penso, valeram para repor uma das várias tardes de caminhada em que dei o cano nos últimos dias.
O café da manhã começou a mandar lembranças já na longa fila da imigração, onde um dos atendentes assustava gentes de várias partes do mundo com sua visível falta de disposição de aplicar seu carimbo azul a passaportes estrangeiros. Preparei para ele um repertório que acabei não tendo de sacar. Quem me atendeu foi sua simpática colega, que mostrou-se solidária a mim diante da informação de que fico por aqui só até sábado. “Tão pouquinhos dias?”, sorriu.
Antes disso, logo atrás na fila, um colombiano roía unhas diante da constatação de que sua conexão para Madri partiria em 20 minutos e havia coisa de uma centena de passaportes à nossa frente. Estava acanhado, ainda mais depois da tentativa malfadada de pedir orientação a um agente que, mostrando no peito a insígnia policial, esnobou em bom português, sem trocadilhos, que aquilo não era problema dele. Fiz o colombiano furar a fila, dei-lhe dicas que supus serem eficientes para ir direto ao guichê. E assim fez, e deve ter conseguido embarcar para a Espanha.

Calculo que 120% dos táxis de Portugal, ao menos da frota de Lisboa, são veículos Mercedes-Benz. “A opção é dos patrões. Estes são os melhores carros”, apontou Carlos do Rosário, taxista que me trouxe ao hotel Estoril 7. Tive praticamente de lhe ensinar o caminho, constatação dele próprio. “Ah, pois, sou taxista há tantos anos e é um rapaz do Brasil quem tem de me ensinar os caminhos cá no Estoril. Seguramente vais fazer piadinhas de português com os seus”, anteviu, coberto de razão e exercendo o sotaque pátrio em que vejo boa dose de simpatia.

Enfim, não consegui administrar meu estômago até a chegada ao Estoril 7. Pedi a Carlos do Rosário que estacionasse em qualquer lugar e, tendo o autódromo como paisagem, tratei de aliviar meu mal-estar. Missão cumprida, um guardanapo, um chiclete e tudo certo.
O relógio do laptop indica que são seis da manhã. Na verdade, são nove. Vai continuar indicando meu horário habitual. Ia arriscar uma imersão em água quente na banheira, mas deixo pro fim da tarde. Vou dar um pulinho ali no autódromo. Que, olhando daqui, a algumas centenas de metros, parece muito bonito.

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