quinta-feira, 24 de março de 2011

Pastéis de Belém (9)

Apesar de algumas decepções com a cidade, assunto para um pastel nas próximas horas, a estrutura e a condição de trabalho aqui no autódromo do Estoril são formidáveis. É piada recorrente – não avalizada pela chefia, aliás – que o Porsche GT3 Cup Brasil deu um tiro no pé vindo fazer corridas em Portugal, por ter oferecido a seus pilotos um padrão que não será possível praticar nas corridas brasileiras.

Brincadeiras bobas à parte, todos os integrantes da categoria veem-se maravilhados com o que o autódromo oferece, as instalações, o serviço, o estado de conservação, a presteza e a cortesia de todos que aqui trabalham. Alheios a essa admiração, os portugueses gabam-se, dizem que o circuito do Algarve dá de dez a zero no do Estoril. Logo devo estar por lá para tirar meu parâmetro próprio a respeito.

Atenho-me, no caso desse post, a apenas um dos fatores que chamaram atenção nesse princípio de fim de semana de trabalho. O modo como direção de prova e comissariado, ou colégio de comissários, como chamam aqui, acompanham treinos e corridas. Uma das coisas que faço melhor é importunar, e há pouco fui à sala de controle importunar a equipe de trabalho. Que, com a cortesia a que já estamos nos acostumando, me mostraram detalhadamente o funcionamento de tudo.

Há tempos, postei lá no Twitter uma foto da sala da direção de prova na etapa brasileira do WTCC. Havia uma estante com 12 monitores de 20 polegadas, em que o diretor de provas Eduardo Freitas - português, casualmente - e sua equipe acompanhavam tudo que se passava na pista. Pois bem, aqui no Estoril nada menos que 28 monitores estão instalados às fuças dos comissários, como mostra a foto aí de cima.

Cada monitor exibe a imagem de uma das câmeras fixas do sistema interno, equipamento que nada tem a ver com a geração de imagens das corridas para a televisão. E as imagens de todas as câmeras são armazenadas em disco rígido, num dispositivo pouco maior que um vídeo-cassete (lembram?). Os comissários podem rever quantas vezes quiserem a imagem de qualquer ocorrência de pista, desde o primeiro treino livre de um fim de semana de corrida. A margem de erro nas decisões e eventuais punições, com uso desse sistema, cai a quase zero.

No automobilismo do Brasil, por exemplo, essa revisão de imagens só é possível a partir do momento em que a geradora de imagens, que normalmente é a minha conterrânea MasterTV, conclui sua preparação para gerar um evento para a televisão – mesmo assim, nem todas as imagens captadas são armazenadas.

Sou beneficiado direto dessa condição toda. Aqui na aconchegante sala reservada aos locutores, tenho à disposição nada menos que seis monitores para a cronometragem e a imagem de cinco das 28 câmeras. Pela foto, vê-se que dei outro fim à comodidade e vou acompanhando aos poucos a programação do Eurosport. De forma ou outra, os Capellos, Chicões, Kakás, Lucs, Murilos, Pernas e Valérios, que fantasio serem os locutores aqui do automobilismo português, têm o trabalho muito mais facilitado que seus equivalentes brasileiros.

O costume feio que nós brasileiros temos de fazer piadas com português, em certos pontos, precisa de freio rápido. No automobilismo, de modo especial, essa mania de atribuir burrice aos patrícios é, sim, de uma burrice e tanto.

1 comentários:

Anônimo disse...

TEXTO MUITO BEM ESCRITO!! TEMOS MOSTRAR ISSO P/ QUEM ADM. OS AUTODROMOS AQUI NO BRASIL. OS PORTUGUESES DE BURRO NAO TEM NADA.

ABRAÇOS

RONEI RECH