quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A Indy, Neide e meu pai

Em 1996, o Brasil recebeu pela primeira vez uma prova da Fórmula Indy. Que, a bem da verdade, já não era mais Fórmula Indy, foi aquele o ano da cisão que isolou a categoria nas searas ianques e deu brecha para a criação de uma outra série pela Cart, a que arrebatou os principais nomes da competição.

Enfim, se perguntassem à época, todos falavam da Indy no Brasil. Uma corrida a que não assisti. Meu pai estava hospitalizado e a largada aconteceria no exato momento em que seria aberta a visitação aos pacientes do hospital. Naquele 17 de março, priorizei, claro, os poucos instantes que teria para estar com ele. Eram outros tempos, ainda não se vivia o ápice da tal "era da informação".

O jornal em que eu trabalhava não circulava às segundas-feiras, então não teria de escrever nada naquela tarde. Não havia pressa para nada depois de sairmos do hospital. Optei por passear com a minha mãe pelo centro da cidade em meu velho Fiat 147 e não ver o fim da corrida. O Fiat já era velho em 1996, foi meu primeiro carro, perdi-o duas semanas depois em um acidente fatal.

É claro que pedi a uma amiga para gravar a toda a transmissão do SBT em VHS. Lembram do vídeo-cassete? Deve haver um em algum lugar por aqui, não vou revirar as quinquilharias agora para procurar. Eram umas quatro da tarde, acho, quando toquei a campainha da casa da Neide, queria a fita para assistir à prova toda em casa. Como se fosse ao vivo, eu viveria com algumas horas de delay tudo que outros fãs da Indy já tinham vivido.

Quando Neide veio abrir o portão, já trouxe a fita em mãos. "Não me diz o resultado", bradei a ela, puro reflexo, como que por algum instinto. "Claro que não", ela respondeu, para arrematar: "Mas a mãe do André Ribeiro ficou tão feliz...". Os momentos finais daquele VHS, que sobrevive em alguma prateleira empoeirada, estão reproduzidos neste vídeo.



E lá se vão 14 anos. E daqui a alguns dias, Indy no Brasil de novo, a Indy de verdade. Quiçá, com vitória de um brasileiro. Provavelmente vou assistir à corrida, de alguma mureta ou vidraça lá do Anhembi, ou talvez pela televisão. Espero não ter ninguém próximo hospitalizado no dia.

E depois daquela vitória de André, meu pai permaneceu neste plano por mais quatro anos, nove meses e três dias.

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