segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A pedido, o desabafo do patrulheiro

Dia desses, postei um comentário aqui sobre as atuações e considerações que envolvem o trabalho de policiais rodoviários. A esse propósito, recebi de Edilson Reche um texto supostamente escrito por um policial, desses extraídos da internet, de um blog. Pareceu ser de 2006. Pode servir como reflexão, como parâmetro. A foto, claro, é meramente ilustrativa, busquei-a no Google. Pode servir para qualquer coisa.

Diante da sugestão de publicação, eis o texto, em sua íntegra:

"DESABAFO DE UM POLICIAL MILITAR.

Mitchell Brown*

Muito bem, senhor cidadão, eu creio que o senhor já me rotulou.

Acredito que me enquadro perfeitamente na categoria em que o senhor me colocou. Eu sou estereotipado, padronizado, marcado, corporativista e sempre bitolado.

Infelizmente, isto é verdade, contudo, não vou rotulá-lo.

Mas digo que, desde que nascem seus filhos ouvem que eu sou o 'bicho papão' e depois fica chocado quando eles se identificam com meu tradicional inimigo... o cidadão infrator.

O senhor me acusa de contemporizar com os infratores até que eu flagre um de seus filhos cometendo um delito.

O senhor é capaz de gastar uma hora para almoçar e interrompe o serviço para tomar muitos cafés por dia, mas me considera um vagabundo se paro para tomar uma xícara.

O senhor se orgulha do seu refinamento, mas nem pisca quando interrompe minhas refeições com seus transtornos e dificuldades que, muitas vezes, são provocadas pelo senhor mesmo.

O senhor fica fulo quando alguém o fecha no transito, mas se eu o pegar fazendo a mesma coisa e lavrar um auto de infração de trânsito, estarei lhe perseguindo. O senhor conhece todo código de transito, mas muitas vezes não porta os documentos de porte obrigatórios.

O senhor acha que sou um irresponsável se me vê dirigindo em velocidade relativamente alta e com a sirene ligada para atender uma ocorrência, mas sobe pelas paredes se eu demoro dez minutos para atender um chamado seu.

O senhor acha é parte do meu trabalho se alguém me fere, mas diz ser truculência policial se me defendo de uma agressão injusta, atual e iminente.

O senhor nem cogita em dizer ao seu dentista como arrancar um dente, ou ao seu medico como extirpar seu apêndice, mas está sempre me ensinando como devo fiscalizar o cumprimento da lei.

O senhor quer que eu o livre dos que metem o nariz na sua vida, mas não se manifesta quando chego atendendo à sua solicitação, para que ninguém fique sabendo disso.

O senhor brada: 'É preciso fazer algo para combater o crime!', mas fica irritado se é envolvido no processo.

O senhor não vê utilidade na minha profissão, mas certamente ela se tornara valiosa se eu trocar um pneu furado do carro de sua esposa em local ermo ou perigoso, conduzir seu menino no banco de trás do carro patrulha, talvez salve a vida de seu pai com uma respiração boca a boca ou trabalhe por horas a fio, procurando por um parente seu que desapareceu.

Assim, senhor cidadão, o senhor pode 'levantar a saia', dizer impropérios e se enfurecer pela maneira pela qual executo meu trabalho, dizendo todos os nomes feios possíveis, mas nunca se esqueça que sua propriedade, sua família e até mesmo sua vida dependem de mim e dos meus colegas.

Sim, senhor cidadão, eu sou um policial.


(*) Mitchell Brown, autor deste texto, patrulheiro da Polícia Estadual de Virgínia, EUA, morreu em serviço dois meses depois de o escrever."

0 comentários: