Embora o jornalismo da Globo seja o mais tendencioso possível, duas matérias do Fantástico de ontem chamaram atenção. Uma, pela óbvia a caça de pontos no Ibope, a que trouxe o demente que encheou o corpo de uma criança de agulhas para, segundo ele, "atingir a mãe" do menino, com quem era amasiado. Outra, sobre as práticas dos contrabandistas que atuam na fronteira Brasil-Paraguai.
Não consegui concluir, também não tive esse esforço, qual interesse a emissora pretendeu contemplar com sua tentativa de escancarar uma prática que acontece diuturnamente debaixo dos narizes de todos, inclusive das autoridades. Sempre aconteceu, sempre vai acontecer. No dia escolhido pela produção para acompanhar o trabalho, a Polícia Federal chegou ao local da carga da muamba quando todo mundo já tinha batido em retirada. A polícia sempre chega depois que as coisas acontecem, já sem tempo para qualquer providência. Deteve oito coitados que integravam o grupo de mais de cem que organizava o despacho do contrabando. Esses oito representaram a cota da mídia.
Para quem assiste ao Fantástico ou a qualquer outro informativo - não necessariamente da Globo -, interessante seria uma abordagem sobre a interceptação dos ônibus de sacoleiros pela Polícia Rodoviária, cujo combate ao contrabando restringe-se à coleta de parte dos produtos trazidos do Paraguai e das quantias em dinheiro que os compristas reúnem para pagá-los e poderem seguir viagem.
As "negociações" são acaloradas, já presenciei algumas, inclusive com voz de apreensão ao ônibus pelo fato dos sacoleiros não terem atingido o valor pedido pelos policiais, que na ocasião era de R$ 3 mil.
Quem viaja em ônibus de linha e não tem nada a ver com as negociações entre compristas e patrulheiros invariavelmente tem a viagem atrasada. Comigo, aconteceu quase uma dezena de vezes. Se eu, que sou um zé-ninguém, sei disso, é impossível que a grande mídia e a alta cúpula das polícias não saibam. Se fazem vistas grossas, é porque o sistema contempla os interesses de todos.
Na matéria do Fantástico, além do óbvio ululante que a Globo "vendeu" como furo de reportagem, a sensatez ficou por conta do delegado da Polícia Federal, José Alberto Iegas, quando observou que para saírem da atividade ilegal, os sacoleiros precisariam de oportunidades no mercado formal de trabalho. O que leva a outra discussão, indicada para outro momento.
Volto ao tal Roberto Carlos Lopes, que quase matou a criança injetando-lhe agulhas no corpo sob orientação de uma bruxa. Além da ojeriza natural diante de tamanha atrocidade, chamou-me atenção a preocupação da polícia em preservar a segurança do demente, retirando-o do presídio da cidade de Ibotirama, onde a revolta da população colocava em risco a segurança do rapaz. Louvável o esforço para preservar a integridade física do rapaz.
Toda generalização é burra, isso é regra. Mas as corporações policiais, embora numa proporção menos significativa que a classe política, são um dos motivos que envergonham um país. Expresso-me mal citando as corporações, mas faço alusão clara às pessoas que as compõem e que não dão às suas fardas e aos seus distintivos o devido respeito.
É errado dizer que a polícia é ineficaz e corrupta. Mas está abarrotada de profissionais ineficazes e corruptos.
Minha observação é isolada sobre a polícia pelos fatos que vi ontem na televisão, mas aplicam-se a todos os meios. O jornalístico, principalmente. Redes, veículos e jornalistas são ineficazes e corruptos. As faculdades de Jornalismo não ensinam seus pupilos a lidarem com isso.
1 comentários:
Nao tenho mais nada a acrescentar, voce já disse tudo. Parabens por essa analise. Abraços.
Ronei Rech
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