quarta-feira, 10 de março de 2010

João Pedro

Essas coisas que acontecem a toda hora ganham impacto e passam a impressionar a partir do momento em que acontecem perto de nós. Experimentei ontem à tarde uma sensação horrível. Vi uma criança ser atropelada.

Eram 18h05, eu dirigia para casa para pegar Juli e Luc Júnior, iríamos – fomos, na verdade, com o devido atraso – ao Pantanero Bar gravar uma matéria com a equipe da TV FAG, a dupla musical Luc & Juli era a pauta. Quem conhece Cascavel sabe que a Pio XII é uma das ruas mais movimentadas da cidade em fins de tarde.

Quando ouvi arrastarem no asfalto os pneus do Astra que havia acabado de passar por mim em sentido contrário, procurei no retrovisor, como que por reflexo, e vi a imagem do menino de 10 anos a coisa de um metro de altura, o que de imediato me demoveu da impressão de colisão entre dois carros que tive com o barulho do impacto.

O menino caiu no asfalto de joelhos. Sentindo as cores do acidente e o medo que o vaivém de carros lhe teria de causar, engatinhou para perto da calçada. Parei o carro a uns 80 metros do acidente e me vi ao lado dele. João Pedro, seu nome. Voltava da escola, mochila nas costas. Só olhou para um lado da rua, coisa de criança.

Menino de sorte, João Pedro. Por ali, além de mim e de mais algumas dezenas de pessoas que passavam pelo local, um médico que voltava para casa, não lembro a especialização clínica com que se apresentou, e um soldado do Corpo de Bombeiros que por ali passava em seu exercício vespertino. Até a chegada da ambulância do Siate, foram eles quem cuidaram de João Pedro.

Menino sereno, João Pedro. Deitado no asfalto, e acomodamos sua cabeça sobre a própria mochila, preocupou-se em saber se havia estragado o carro da moça. Sim, a moça, é verdade, havia a moça, que àquela altura usava o telefone público para comunicar o fato a alguém. Não sabia, João Pedro, dizer um número de telefone, mas guiou-nos com detalhes à página de sua agenda escolar onde estavam os contatos da mãe e do padrasto. Pediu que avisássemos a mãe, cujo celular estava desligado. O do padrasto também estava.

As presenças do médico e do bombeiro e a chegada dos socorristas do Siate denotavam que não tínhamos, nem eu e nem maioria dos curiosos que por ali pararam, mais nada a fazer a não ser orar. Fui embora, cheguei em casa tremendo. Aquele menino poderia ter morrido. Forças divinas quiseram que permanecesse vivo, consciente, sereno.

Há pouco, falei por telefone com Luiz Augusto, o padrasto. Conversa rápida e truncada pelo sinal ruim da ligação, mas suficiente para eu saber que João Pedro passa bem. Luiz contou que o garoto seria levado agora cedo para alguns exames, queixava-se de dores. Tive a impressão de que nem hospitalizado está, o que seria boa notícia.

Nada de morbidez, até porque João Pedro está bem, mas baques como o que vivi ontem, diante de seu drama, chegam a fazer bem quando se está experimentando tantas coisas positivas na vida. Põem a refletir.

Viajo amanhã cedo a São Paulo. Na volta, vou visitar João Pedro.

0 comentários: