domingo, 21 de março de 2010

Luc Bin Laden

Acabo de viver meus minutos de suposto terrorista.

Na esteira do raio-X do aeroporto de Guarulhos, além da mochila contendo o laptop e o ovo de Páscoa com que Pedro Rodrigo e Natália presentearam o Luc Júnior, carrego o recipiente plástico com os mesmos itens de sempre - carteira, aparelho celular, maço de cigarros, isqueiro e as moedas que sempre acabam ficando no bolso.

No momento quase protocolar de reaver os pertences, cumprido o extenuante trecho de dois metros da esteira, o fiscal, ou agente, ou sei lá como se denomina a função dessa gente, intercepta meu isqueiro Bic. Em primeiro momento, porque estou embarcando com dois isqueiros, um deles acabei de encontrar lá fora, onde fui fumar antes do embarque, depois de fazer o moroso check-in da Trip. É a única companhia que opera por aqui e pousa suas aeronaves em Cascavel.

Estranhei a barrada no baile que meu Bic levou do fiscal-agente Marcos. Oras, sempre apresento meu isqueiro à esteira, ou quase sempre, por vezes ele fica no bolso e o detector de metais nada acusa quando o transponho. "O senhor está embarcando com dois isqueiros, senhor", justifica Marcos.

Proponho que devolva meu Bic preto de estimação e fique com o outro menorzinho, o que acabo de encontrar lá fora. "Não, senhor, o senhor não pode embarcar com este isqueiro porque ele mede mais de seis centímetros".

Caceta, Marcos deve ser um burro de marca maior. É só considerar que o Bic branco pequeno que acaba de ganhar espaço no meu bolso, o que estava à espera de adoção na calçada lá de fora, também mede mais de seis centímetros. Talvez tenha cabulado as aulas de matemática para, em seu tempo, treinar a pose de marrento que tenta impor.

E o sujeito que criou a tal lei do isqueiro de seis centímetros é, seguramente, mais burro que Marcos. Se eu resolver botar fogo no avião, consigo fazê-lo tanto com o Bic pequeno quanto com a caixinha de fósforos que trouxe do hotel, sempre trago essas caixinhas de fósforo, elas sempre têm utilidade.

Abusado que penso ser, concordei, desde que ele me ressarcisse os dois reais e cinquenta centavos que paguei no isqueiro. Senão, impus, nada feito. "O senhor pode voltar ao balcão da companhia e despachar seu isqueiro, senhor. Aqui, nós interceptamos e ele não passa". Estranho, já submeti meus isqueiros aos raios-X dos aeroportos de Congonhas, Curitiba, Brasília, Foz do Iguaçu, Cascavel, Recife, Campo Grande, nunca me causaram problemas. Talvez por não haver uma besta quadrada como Marcos nas esteiras. Desisti, a fila está longa pacas.

Meu voo, o 5641 da Trip, deveria decolar às 19h10. A moça do sistema de som, a mesma que recomenda a apresentação de documentos de "indentificação" no ato do embarque, acaba de informar que o pouso da aeronave aqui em Guarulhos está previsto só para as 19h30. Vai atrasar uma hora, essa porcaria.

Vou lá fora fumar de novo. Talvez encontre mais um isqueiro esquecido por algum desavisado. Vou aproveitar e tomar uma cervejinha, também, agora há tempo para isso. Na volta, claro, vou escolher o equipamento de raio-X monitorado por Marcos. Sujeito de extrema competência, um orgulho para o país, merece meu prestígio.

1 comentários:

Anônimo disse...

heheh... vc achou o isqueiro que joguei fora por ser impedido de embarcar...