quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O cara que acreditou em mim

PORTO ALEGRE - Já embarcado, prestes a desligar o celular, recebo pelo Twitter a informação de que morreu Rafael Favarin. Um acidente em Mato Grosso, relatado nesse site aqui, o carro em que viajava bateu num trator em plena rodovia. Fatalidades.

Guardo, sempre guardei, uma lembrança bem bacana do Rafael. Ainda moleque, era junho de 1994, fim de semana da nossa estreia, minha e dele, na Copa Tarobá de Kart. Corríamos na categoria V4. Ele, filho e irmão de piloto, um garoto já bem treinado. Eu, como dizem na pista, um bração. Conheci-o naquele dia, e o pai dele, já um conhecido de alguns anos, prontificou-se a levar meu kart e todo o meu equipamento para o kartódromo. Rafael chamou para si, diante da minha delatada inexperiência no assunto, a responsabilidade de ao menos diminuir meus infortúnios.

A turma que se formava à nossa volta, em grande parte com sarros merecidos à minha petulância de enfrentar uma competição de velocidade, impediu uma aula oral como a que Rafael pretendia me aplicar. Ele me puxou pelo braço, nós dois já com os capacetes afivelados a poucos minutos da tomada de tempos, para longe dali - essa imagem existe num dos inúmeros VHS na prateleira do Milton Serralheiro, faz anos que não a vejo, vou pedir a fita ao Milton. Rafael simulando com as mãos a reação que eu deveria ter ao volante do kart depois de provocar saídas de traseira, eu tentando imitar como se estivesse de fato assimilando algo. Rodei bastante nos treinos e na corrida, e da corrida o Rafael não chegou a participar, o motor dele quebrou naquela tomada de tempos. Valdir, o pai, foi sozinho me buscar em casa às sete da manhã do domingo, me deixou no kartódromo com toda quinquilharia. Rafael estava em casa, inconsolável diante da falta de um motor sobressalente, não quis sequer acompanhar as corridas do dia. Me telefonou na segunda-feira pra saber da minha corrida, um quarto lugar. "Se eu estivesse correndo você seria quinto", desafiou, com provável razão.

Corremos juntos mais uma vez, a segunda etapa daquele campeonato, em Foz do Iguaçu, ele no pódio em terceiro, eu fora, em sexto sem rodar nenhuma vez e virando voltas três segundos mais lentas que todo o restante do pessoal. Atrás de mim ficaram o Adriano Reisdorfer, hoje bicampeão metropolitano de Marcas & Pilotos, e o Sérgio Polina, que chegou a Foz como líder do campeonato e enfrentou problemas. Conter a pressão do Adriano por três voltas - e ele devia ter problemas mecânicos - foi o que de mais bonito fiz numa pista de corridas, Rafael me cumprimentou por aquilo. "Pelo menos no pódio eu subi", ele exclamou, já no pódio, o que também está registrado na desorganizada coleção de fitas do Milton.

Odeio escrever sobre amigos que se vão, mas os amigos se vão. Hoje, foi-se mais um. Talvez o único que tenha acreditado que eu poderia conseguir impressionar naquela corrida de kart de 18 anos atrás.

O Rafael está na foto aí abaixo, de camisa vermelha, comemorando com o pai Valdir e outros familiares a vitória do Edgar Favarin, seu irmão, e do Flávio Poersch na "Cascavel de Ouro" de 2005. Tinha 32 anos, o moleque. Não deveria ter ido tão cedo.

7 comentários:

Francis Henrique Trennepohl disse...

Impossível ler todo o texto sem que lágrimas corram pelo rosto.
Não o conheci, assim como não conheço pessoalmente a maioria da turma aí de Cascavel, mas graças aos blogs, sites, redes sociais, etc. já me sinto um pouquinho "da turma".
Força e serenidade à família, e que Deus e os deuses da velocidade o recebam de braços abertos.
R.I.P., Rafael!

Daniel Augusto Garmatz disse...

O Rafael sempre foi um cara simples, educado, sincero e humilde demais. Lembro-me bem desse junho de 1994, até porque eu também estava na pista. Uma pessoa como o Rafa merece ser lembrado por esses momentos, como tu mesmo escreveu Luc... Faço minhas as tuas palavras, e que ele descanse em paz.. força e fé para toda a família Favarin.

S.H. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CLEBER FONSECA disse...

Nos criamos juntos luc, ele um pouco mais novo que eu, fizemos uma pista de bicicross ao lado de ksa pra correr, ele sempre estava aqui,correu em dupla com meu irmão Jeferson Junior no Marcas, minha mãe e meu falecido Pai Jeferson Fonseca eram padrinhos de um dos fihos do Seu Valdir e Dna Diva, que também se foi muito novo, uma sina para eles, já perderam 4 dos seus 6 filhos, lembranças que agora ficam guardadas em um canto do meu coração, o Rafa era novo demais, pq isso meu Deus.

L.A.Pandini disse...

Meus pêsames, camarada. A você e à família Favarin. Abraços. (LAP)

Anônimo disse...

Oi Daniel... Acabou de ler hj a noticia do Rafael... Sou o Fernando Lima que corria com vc... Amigo do Diogo pachenck lembra... Treinamos muitas e muitas vezes juntos com o Alisson sica.... Fico muito triste pois cresci com o Rafael e convivi grande parte da minha infancia junto com ele... Não saia da casa dele... Hj é um dia muito triste pra mim...

Anônimo disse...

Grande Cleber... Corri muito na pistinha no terreno de esquina junto com o Rafael, Luciano e o Diogo Pachenck... Devo ter andado com vc tbm... Forte abraço Fernando Lima.