Com o devido e característico atraso, está lançada nossa série. Que, como já relatado na terça-feira, vai tentar trazer à parca audiência do BLuc um perfil das pessoas que falam e escrevem sobre o automobilismo – meus colegas, pois, que por muitos podem até ser vistos como concorrentes, não no caso de hoje. Não muda nada, enfim.
“Os caras do meio”, a série em questão, começa mal, com um torcedor palmeirense. Victor Martins é o primeiro personagem do trabalho. Editor-chefe do Grande Prêmio, site de conteúdo voltado ao automobilismo que integra o cardápio da agência jornalística Warm Up, o paulistano de 30 anos não necessariamente assumidos despendeu na véspera do GP da Coreia, corrida que marcou sua segunda atuação como comentarista de Fórmula 1 na Rádio Globo, parte de seu tempo desprezível para falar um pouco da vida, do trabalho e das pessoas.
Brincadeiras à parte, o arremedo de entrevista foi feito por e-mail, já que interurbanos ou passagens para São Paulo estão custando os olhos da cara. Victor – ou “Vitonez”, apelido antigo que há três anos identifica seu perfil no Twitter – dificultou bastante as coisas. Minha ideia inicial era a de um tijolão de texto falando do personagem de cada semana. Victor se empolgou um pouco, mandou quase 10 mil caracteres em respostas que, da forma como vieram, merecem sobreviver intactas. Alguns detalhes foram arredondados pelo MSN.
Somem-se a isso minha costumeira preguiça e a correria para a viagem que vai me levar no fim de semana a uma inédita jornada dupla e está feita a opção pelo formato pingue-pongue, do qual não sou exatamente um apreciador. Nem regra, nem exceção, pois, vai aí o pingue-pongue com o Vitonez – que, como maioria de nós, escribas e tagarelas das corridas, é amado por muitos, odiado por outros tantos. Umas três ou quatro entrevistas como essa, pelo menos, estão garantidas. Se der algum ibope, mantemos a série.
Luc – Qual foi sua influência para entrar nesse ramo de automobilismo? Foi uma opção feita antes de cursar Jornalismo?
Victor – Sempre gostei de automobilismo. Assistia desde os 6, 7 anos às corridas e achava que um dia seria piloto. Com 12, já tinha percebido que não dava, então fui inclinando para as vertentes. Tinha noção que queria Jornalismo, mas por um momento achei que fosse fazer Física. No fim, fui para o lado das Humanas, mesmo.
Luc – Seu início de carreira foi mesmo na Warm Up ou rolou algo antes?
Victor – Eu fiquei alguns meses, talvez dias, num jornalzinho de bairro. Devo confessar que era bem mequetrefe, a ponto de mal lembrar o nome. Era de um cara com quem havia estudado no colegial, mas era tão mal organizado, inclusive para pagar, que desisti. Daí prestei concurso e passei no Banco do Brasil. Fiquei cinco meses lá, três deles trabalhando concomitante, nos finais de semana, já na Warm Up. Quando Everaldo Marques e Tales Torraga deixaram a agência, entrei como fixo e abandonei a profícua e edificante vida de abridor de contas e afins.
Luc – A “bio” no seu blog diz que você pensava ter de cobrir futebol antes de chegar ao automobilismo. Nunca cobriu futebol?
Victor – Nunca cobri nada que não fosse automobilismo em esporte, embora a ideia me seja muito válida. Gosto de futebol – mas precisaria me preparar muito melhor pra isso –, principalmente internacional. E como joguei vôlei e handebol – sim, me julguem –, também manjo do assunto.
De futebol todo mundo acaba entendendo um pouco porque é o esporte nacional e todo mundo já jogou. A maioria dos jornalistas de automobilismo nunca competiu – tem gente que mal dirige. Aí se vê uma diferença grande. Não que seja imprescindível, mas conhecer de um carro é muito mais válido do que saber de quatro linhas, táticas e gols. Eu, vendo mais pela nossa área, tendo a dizer que há um nivelamento, por baixo, dos atuais profissionais. Jornalistas que querem ser assessores ao mesmo tempo, assessores que pegam contas conflitantes de interesses e éticos, gente que não entende do assunto, que inventa notícias, que até ‘aluga’ espaço de seus veículos para outros interesses. No futebol, isso deve acontecer, de uma forma ou de outra, mas a profissão não passa por uma fase das melhores.
Luc – O noticiário de Fórmula 1, uma especialidade sua, exige de forma especial que haja bons contatos e boas fontes, o que leva à construção de relacionamentos. Quando é que o jornalista sabe que está delimitando no ponto certo a relação com suas fontes?
Victor – Há uma relação, primeiramente, de respeito. A fonte conhece seu trabalho e sabe que não será revelada sob hipótese alguma. Nos anos em que cobri as corridas da Stock Car é que a relação foi aumentando, porque naturalmente fui conhecendo mais gente. E com o passar do tempo, creio que o resultado do trabalho, meu e dos meus colegas da Warm Up, acaba trazendo muitas outras fontes que, principalmente, querem apresentar algum tipo de denúncia por saberem que investigamos e vamos atrás.
Luc – O que levou a Warm Up à revista digital? É de fato um veículo revolucionário no meio automobilístico?
Victor – A necessidade de termos um braço eletrônico mais profundo nas matérias. As notícias diárias não nos permitiam focar em assuntos que precisavam de um trabalho mais intenso e próprio. E lançar uma revista impressa, mais uma, estava fora de cogitação. Eu não diria que é revolucionário porque já havia um espelho, a GP Week, mas foi um passo importante para que este meio fosse devidamente desbravado. O que falta, agora, é que as empresas e patrocinadores descubram que as revistas eletrônicas são uma mina de ouro ainda pouco desbravada.
Luc – Seu estilo de jornalismo, mesmo quando não opinativo, é marcado por uma postura crítica que, sem trocadilhos, rende-lhe muitas críticas, inclusive de colegas. Isso o incomoda?
Victor – Não. Podiam gastar as críticas com o objeto de trabalho deles, o automobilismo, as corridas. Mas a conveniência cala. Não me preocupo, mesmo, e nem com quem as faz. Cada um age da forma que acha melhor, e assim toca a vida. Eu me preocupo em ser justo com meu trabalho, exigente com o que faço, me preocupo com a Evelyn, com os Felipes, com o Fernando, com a Juliana, com a Paula, com o Flavio, com o site, com a revista, com projetos, os textos ou as reportagens. Tenho uma baita liberdade para falar do que quiser aqui, e disso me orgulho. Tenho uma ótima relação com todos eles, que sai da esfera do trabalho. Eles são muito maiores que qualquer crítica que fazem sobre mim, e é isso que carrego.
Luc – Você sempre escreveu. Agora, está falando, também. Como tem sentido a novidade?
Victor – Eu nunca pensei em fazer rádio. Não sou um exemplo de eloquência, bem como não sou um cara de vídeo, por exemplo. Quando surgiu o convite da Rádio Globo, fiquei um pouco receoso. Eu me peguei treinando às vezes nos dias anteriores à corrida, da Itália, no caso. Fui para o estúdio, mas até que estava tranquilo. Mas logo deixei a ansiedade de lado, e aí o negócio fluiu bem. E a companhia de pessoas que entendem do assunto, no caso do Alex Dias Ribeiro, do Oscar Ulisses e do Roberto Lioi, deixa mais seguro. Gostei bastante da experiência e pude repeti-la agora neste fim de semana. É algo que definitivamente gostaria de fazer mais vezes.
Luc – Que significado você vê no fato das transmissões/coberturas de eventos automobilísticos terem se tornado notícia e alvo de análises mais detalhadas?
Victor – O fato de os eventos em si, principalmente no Brasil, serem tratados não como corridas de automobilismo. Há sempre um interesse (ou desinteresse, vendo por outro ponto) por trás de tudo, principalmente de dirigentes e diretores. Por exemplo: por um tempo, chegou a se pensar que o automobilismo poderia conviver com o futebol enquanto esporte prioritário no Brasil. Hoje o vôlei já passou, o MMA vai passar fácil, se o basquete se reorganizar, também vai pra frente, e o automobilismo só tende a cair. Não produzir ídolos, nesta cultura já dita, representa perda de interesse. E quando o interesse se vai, o jornalista tem um público menor pra escrever. E o veículo de comunicação começa a destinar menos espaço e demanda para tal. A F1 na Globo começa minutos antes das corridas. A Stock Car mal tem sua temporada passada ao vivo. A Indy, absurdamente, não terá transmissão ao vivo nem da Bandeirantes nem do Bandsports. Eu não entendo como é que os patrocinadores renovam seus acordos sendo que não estão sendo exibidos no horário programado. Qual a graça de ver uma corrida em VT? A TV está acabando com sua cobertura de automobilismo, é a verdade, e isso acaba virando notícia. Sem contar o desserviço imenso que presta a CBA.
Luc – Na análise de quem está há oito anos nisso, no caso você, qual é o maior problema e qual é a maior qualidade do jornalismo brasileiro voltado ao automobilismo?
Victor – O maior problema é o interesse do jornalista e do veículo em sobreposição à notícia. Uma coi$a conta demai$ no meio. A qualidade... a internet proporcionou que pessoas realmente boas se lançassem. Antes, havia uma restrição clara, TV e rádio, e agora você tem uma amplitude de informações muito grande. Ressalto que não necessariamente haja uma qualidade alta, mas com essa pluralidade, há quem se destaque e se veja com bons olhos.
Luc – Quem você aponta como os papas do ofício?
Victor – Não é porque é o chefe. Mas Flavio Gomes está lá. Se um dia eu tiver meu negócio no meio, é ele quem vou querer “bater”. No mesmo nível, Castilho de Andrade. Os dois dividem esse papado. É que o Castilho teve de abrir mão agora por seu envolvimento na assessoria do GP do Brasil, mas sua cobertura e seu texto, além de sua postura, foram e são admiráveis. Gosto muito do Fábio Seixas também, mas o nariz dele atrapalha um pouco.
E na questão de assessoria de imprensa, há duas pessoas que estão no estrelato: Márcio Fonseca e Fernanda Gonçalves. O Márcio é imbatível no que faz. Qualquer um percebe no Márcio a qualidade no texto e a diferenciação que ele dá aos seus releases, procurando também informar. É um jornalista em sua essência. Sem contar que se trata de alguém absolutamente ímpar.
E a Fernanda, é meio suspeito eu falar pelo laço de amizade, mas ela está no mesmo patamar. Eu gosto, sobretudo, Luc, de pessoas éticas e honestas. A pessoa pode ser uma péssima profissional, não saber escrever, mas pra mim tem de ser gente decente. A Fernanda não só é uma excelente jornalista e assessora como é uma pessoa que considero exemplar. Eu tenho um respeito profundo e imensurável por ela. É alguém que carrego pro resto da vida. E para quem estou devendo o próximo almoço.
Luc – Qual seu conselho ou alerta básico a futuros jornalistas que o procuram atrás disso?
Victor – Teoricamente, quem tem conhecimento (acompanha corrida, tem bom português e inglês, quem se interessa pelo assunto). Na prática, hoje estão indo muitos jovens (e até nem tanto) que gostam de corrida e se contentam em tirar foto e falar pelo Twitter com os pilotos. A dica que posso dar não deve fugir a nenhuma que qualquer um daria: aperfeiçoar-se, ser um diferencial, ir atrás, ter fontes confiáveis, checar a informação, ouvir os dois lados, jamais inventar algo, as regras básicas do jornalismo. E procurar saber do que e de quem está falando: mergulhar nas histórias dos pilotos e das equipes, saber o que significam os termos, ter noções básicas da parte técnica de um carro, conhecer as pistas. Conhecer. Saber. É o que vale. E muito.
11 comentários:
Alias, bem legal a entrevista com o @vitonez . Parabéns
Também gostei ! RT @thiagoalvescar: @lucmonteiro Alias, bem legal a entrevista com o @vitonez . Parabéns
Bom dia Luc,legal a entrevista com o Victor Martins,lógico ele deu uma alisada em suas bolas, mas ficou legal, parabéns!
@leogomes83 haha não puxo saco de ninguém, não, Léo. Ainda mais do nanocascavelense.
Muito bacana a entrevista do calhorda @vitonez pro @lucmonteiro.
Altamente recomendada a entrevista que o @vitonez concedeu ao @lucmonteiro.
Muito Boa entrevista!
@vitonez entrevista para o @lucmonteiro não é digno de um global
Já foi mais nobre! RT @vitonez: Dei uma entrevista pro @lucmonteiro e seu Bluc falido. Negada vai adorar, só que ao contrário: bit.ly/nYbdB3
Luc, muito legal a seção do blog. Parabéns! Escrevo também para agradecer ao Victor mais uma vez... O que seria de mim sem os amigos! hehehe Vi, te admiro muito! Vc sabe! Beijos
"Jogo volei e handebol". Hm. Próximo passo foi a primeira Barbie...
Bela entrevista.
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