Dias atrás, acompanhando pela internet um capítulo decisivo do drama de um rapaz, perguntei à minha mãe se sabia de quem se tratava. Li no blog do Rodrigo Borges, em bela crônica, que ele participou de um BBB, programa que ela acompanha como poucas pessoas.
Ale Rocha, o nome do rapaz. Jornalista, mais novo que eu. Não, ela não lembrou, disse que não lembra mais de muitos dos personagens que já passaram pelo programa. Perguntou por que eu queria saber daquilo. Contei a ela o pouco que sabia do caso do Ale, a hipertensão pulmonar, os três anos de vida a que os médicos o sentenciaram, que se multiplicaram, chegaram a seis, até que o esperado transplante chegou, na semana passada. Ela perguntou se era meu amigo, falei que ainda não o conhecia. Ainda.
As notícias do pós-operatório eram animadoras, afinal. Hoje, via Twitter, perguntei ao Borges, a quem também não conheço pessoalmente, se estava tudo bem com Ale Rocha. Talvez estivesse, há valores que somos incapazes de mensurar. Ale morreu, não resistiu ao complicado processo clínico.
Seus amigos, e tenho contato com vários deles, citam Ale Rocha como um cara intenso, com sede de vida. Coisas que assumo, nesse caso, como bem mais que bordões para um momento de luto. Predicados que ouço e leio há tempos associados a Ale Rocha. Que acabou convertido, em seu meio e por seu público, em bandeira da luta pela doação de órgãos, e é aqui que eu queria chegar.
O momento de comoção que acompanho à distância – e nesse caso o termo da moda, “virtual”, aplica-se bem – suscitou, como forma de homenagem a Ale Rocha, uma campanha para que mais pessoas declarem-se doadoras de órgãos. Não é a maior, mas uma das maiores dificuldades enfrentadas por pacientes que dependem de transplantes. Encontrar doadores.
Há um mecanismo para isso que permite uma citação no documento de identidade, o que leva a alguns temores. Não é, na ótica de boa parte das pessoas, uma informação que se deva carregar no bolso, à disposição de quaisquer más intenções dessas que permeiam o mundo. O assunto tem abordagem desagradável, claro, envolve morte, e morte é algo que bobamente não se considera. Mas deve ser discutida no lar, a intenção da doação.
Andei fuçando rapidamente na internet e vi que não há necessidade de fazer constar a condição “doador” na cédula do RG. Uma declaração da intenção de doação de órgãos assinada e autenticada em cartório, que pode bem ser armazenada em casa na pasta de documentos, sob conhecimento dos familiares, é suficiente. Tem lá seu custo, R$ 88,83, segundo acaba de me informar por telefone o Camilo, de um cartório aqui da cidade. É muito pouco se você considerar que pode valer uma ou mais vidas. A sua, talvez.
Sem clichês, é momento de todos que manifestam comoção pela morte de Ale tratarem de sacramentar, pela bandeira que ele deixa, a intenção de doação. Que se o faça na discussão do assunto no lar, no pleno convencimento dos familiares sobre tal intenção, o que dispensa documentos - a resistência de familiares no momento de dor costuma inviabilizar possíveis doações. A bandeira vai perder força com o tempo, é sempre assim que as causas se dissipam.
Vai fazer a diferença para vários outros Ales. Esse, o de verdade, eu não conheci.
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