segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Lula lá

De uma hora para outra, uma quase beatificação de Lula, que teve diagnosticado um câncer na garganta.

Nos primeiros dias após a descoberta, horas e horas de espaço nobre na TV para explicar seu caso, a operação de guerra já montada para a cura, as correntes de fé de quem segue Lula e seus comparsas com fervor religioso, os casos garimpados de quem já venceu a doença, um acompanhamento minuto a minuto do tratamento.

Até meu time, que é também o time de Lula, foi fazer-lhe homenagem em campo, e ainda assim conseguiu ganhar e voltar à liderança do campeonato. Nunca vou receber homenagens do meu time.

Lula, à sombra de sua doença, é convertido em um quase mártir. Só não é mártir porque não morreu, claro. E vira alvo de mensagens que se acumulam em profusão. Às personalidades, é obrigação prática do momento enviar a Lula bem elaboradas mensagens manifestando votos gentis, quase todas criadas por assessores.

Lula não perfaz exatamente o perfil de garotão natureba que economiza saúde. Está a caminho dos setentinhas, toma os goles dele como toda gente que se preze, fumou até um ano atrás. O corpo cobra essas contas todas.

Sem trocadilhos, não tenho nenhum voto de especial apreço por Lula e não vai ser seu novo drama que vai me pôr em demagógica condição de bom moço. Não torço contra, claro, apesar do meu azedume dos últimos dias, também decorrência de um problema recente – o meu é bem menos grave que o dele, de ordem material, e em comum entre os dois só o fato de que vou pagar as duas contas.

Há pouco foi-se José Alencar, vice de Lula em seu tempo na presidência. Foi tratado e apontado como guerreiro, batalhador, um herói, termos com que discordo com veemência. Guerreiro é o pai de família que, mesmo tendo expediente completo a cumprir no dia seguinte, passa a noite numa fila de posto de saúde à espera de uma concorrida senha para que um médico do SUS dê alguns instantes de atenção a seu filho enfermo, e que seja seu mal qual for haverá de lhe receitar uma aspirina e mandá-lo para casa. Guerreira é a mãe que, depois de dois dias e duas noites em corredor de hospital com a filhinha doente nos braços, volta para casa amargando a falta de atendimento e de dignidade e prepara um chá para a menina, garantindo-lhe estarem ali as soluções para o que a faz sofrer.

Lula terá do bom e do melhor em seu tratamento, é mais do que justo, e de seu drama sairá vencedor, como já saiu vencedor de outras tantas situações adversas. É uma certeza que tenho. E estará lá daqui a três anos, retomando seu lugar ao trono que a maioria lhe conferirá pela terceira vez. E, uma vez estando lá, que reconheça a importância do bom tratamento que lhe terá sido dispensado e dela faça uma sólida plataforma de ação.

O povo pobre para quem Lula prometeu governar quando assumiu em 2003, e que continua dormindo na fila do posto de saúde, por vezes em vão, também precisa de médico. E não tem.

3 comentários:

@leogomes83, via Twitter, disse...

Uma puta coluna f... do @lucmonteiro sobre o Lula, é o meu pensamento: bit.ly/t0Qd7z

@paes_renato, via Twitter, disse...

Sábias palavras de @lucmonteiro sobre Lula e seu "câncerzinho"... Concordo em gênero, número e grau!

LUC disse...

Só me cabe frisar, Renato, que em momento algum faço pouco caso da doença de Lula. Câncer e câncer, ninguém merece passar por isso. Nem Lula, de quem não gosto de jeito nenhum. Ele vai sair dessa.