SÃO PAULO - Tudo que não rolou no fim de semana foi tempo pra vir aqui postar minhas insignificantes querelas. Acho que todos sabem, mas meu empenho maior no fim de semana foi devido à segunda etapa do Mobil Pirelli Superbike. Sou locutor de arena de maioria das etapas. Algumas breves passagens do fim de semana merecem um registrinho aqui, aquele tipo de coisa pra eu mesmo ler daqui a algum tempo.
Foi um fim de semana pródigo, esse no autódromo, de gente perdendo chave de motos, e num evento centrado em corridas de motos o que mais havia, também do lado de fora da pista, eram motos. Coisa que serve pra mostrar que ainda há gente honesta e de boa vontade no mundo. Às vezes, em lampejos de bom humor, eu até acredito que o mundo tem salvação.
O primeiro dos episódios de perda de chaves me chamou especial atenção. Dois rapazes que passaram pelo estacionamento notaram que o dono de uma Twister amarela havia deixado a chave no contato, ou na ignição, como queiram. Mesmo sem credenciais, eles deram um jeito, não tenho a mínima ideia de qual tenha sido, de entrar na área dos boxes, um tanto restrita ao público em geral. Vieram de bem longe pra isso, considerando a geografia particular do autódromo. Me procuraram durante uma das várias cerimônias de pódio do dia, trouxeram uma foto da placa da tal moto – não tinham como anotá-la –, entregaram a chave pra que a gente localizasse o dono e foram embora satisfeitos com a boa ação.
Outro episódio da série Achados & Perdidos me deu a maior satisfação do domingo. Alguém achou pelos boxes uma mochilinha infantil, amarela e azul, à qual estava amarrada uma garrafinha plástica com a figura do Senninha gravada. Tinha um robô desenhado. Troxeram-na a mim, também, não por eu ser um baluarte das causas perdidas, mas por ter à mão um microfone capaz de fazer todo mundo no autódromo ficar sabendo de qualquer coisa, e esse é meu trabalho, afinal. Anúncio feito, não foram nem 15 minutos até que aparecesse um senhor, trazendo pela mão um menininho de dois ou três anos. O olhar do moleque contrastava a tristeza da perda com o alívio tê-la resgatado. Fiz-lhe, no moleque, um cafuné na cabeça, ele retribuiu com um sorriso e foi correndo buscar seus pertences perdidos no lugar onde indiquei que estavam guardados. Arrancar um sorriso de um molequinho é algo digno de uma nota pra eu mesmo ler.
Quanto ao evento, o Superbike, aquilo de sempre. Pilotos saindo pelo ladrão, corridas ótimas – de verdade, a ponto da vitória na principal ter sido decidida por uma distância de não mais que dois dedos. Vou contar direitinho quando chegar em casa, amanhã cedo, mas é para as seis corridas terem totalizado mais de 200 pilotos. É um feito e tanto, o do Bruno Corano, piloto e mentor de todo o campeonato. Bruno que, descobri ontem, é um moleque, cronologicamente falando. Dois anos mais novo que eu.
De novo, o público nas arquibancadas de Interlagos foi um dos pontos altos do evento. Arquibancadas lotadas, falo das duas em frente aos boxes, que na verdade não são arquibancadas, mas áreas cobertas com cadeiras - há uma terceira área dessa, ainda interditada ao uso pelo público. E muita gente esparramada pelas arquibancadas de verdade que acompanham a subida do Café. Sempre tenho a impressão que o trabalho rende mais quando há mais gente para aprová-lo ou reprová-lo. É meu modo bobo de pensar. Bobo, mas meu.
Mesmo atarefado até a tampa, passei o fim de semana todo matutando a validade ou não de se dispor a lutar sozinho contra um sistema todo, só a Juli e eu sabemos do que se trata. Está certa ela, a Juli, é inútil. Diante disso, o que fazer? Deixar a vida passar por trilhos tortos ou, pra não perder o bonde, entrar na onda torta, como fazem quase dez entre dez? Filosofia de boteco de vila, enfim.
E mais algumas coisinhas que vou matutando comigo até dormir. Tenho mil quilômetros pela frente e, apesar do filme que puseram pra rodar aqui, que nos dez primeiros minutos já mostrou ser bem chato, dá pra refletir bastante, e tirar umas boas sonecas, também.
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