BRASÍLIA – Se tem uma coisa que me desagrada é pegar birra. De qualquer coisa ou pessoa. Quando acontece, é difícil reverter. Ultimamente tem sido com a Gol, que concorre com boa margem ao título de companhia aérea mais desorganizada do cu do mundo.
Meus critérios birrísticos são pouco exigentes, o que me permite ratificar minha birra com a Gol mesmo quando o errado na história sou eu. Cheguei alguns minutos atrasados ao aeroporto de Brasília pra embarcar de volta ao Rio. Sem choro nem vela, embora houvesse tempo hábil pra reverter o processo todo, fiquei pro próximo voo e morri com multa de 100 estalecas. É a regra, fazer o quê?, quem está na merda não pia, e aqui caberiam dezenas de outros clichês.
Não é daí que vem a pontinha que ratificou minha birra, já que quem fez merda fui eu. Mas, pela lei do mundo ideal que imagino, não queiram conhecê-lo, deveria eu cobrar 100 mangos da empresa pelo atraso de meia hora no voo que me trouxe aqui sexta-feira à noite, que me fez perder a reunião e o jantar marcado com parceiros, talvez uma biritinha de saideira. Foi uma zona completa o embarque no Santos Dumont. O painel mandava todo mundo pro portão 6, o errado, ninguém sabia para onde ir, até que algum passageiro descobriu o portão correto e fez a informação correr, não havia qualquer engomado de uniforme laranja por perto para dar instruções ou satisfação, e no monitor acima do portão que tivemos de descobrir por conta a indicação era de “last call”, embora, no momento em que deveríamos decolar, o embarque nem houvesse sido iniciado, e a mocinha que disse ser a responsável pelas informações do painel desistiu de trocar o “última chamada” pelo “embarque próximo” depois de duas tentativas mal sucedidas. Todos os que tomaram o voo 1871, que veio quase lotado, deveriam inquirir a Gol em busca de 100 babencos de indenização pelo atraso e pelo aborrecimento. É uma várzea total, irritação em doses cavalares, e ainda bem que o serviço de bordo acalmou todos os ânimos servindo aquele envelopinho com duas rosquinhas de coco.
Laranjices à parte, se é que sacaram o trocadilho, vim atrasado pro terminal JK, o que preocupa, já aconteceu umas três ou quatro vezes de dois anos pra cá. Fomos até as três da manhã com uma edição que eu imaginava estar pronta antes da meia-noite, e anulei o despertador no criado mudo nas três vezes em que me chamou no horário correto, não fosse a Juli telefonar, sabedora que cair da cama não é lá minha especialidade, iria até amanhã cedo num sono ferrado. À saída do hotel, pedi ao taxista que, dentro do possível, fosse camarada pra eu recuperar o atraso. Sei lá o nome do sujeito, seu táxi é identificado pelo número 3001. Não transgrediu nenhuma norma do trânsito, o que é louvável, mas infringiu minha paciência ao trafegar em seus 30 ou 40 por hora numa via de 60 enquanto operava no painel um dispositivo que não era nem GPS, nem taxímetro. Este, o taxímetro, marcou 38 reais como preço final da corrida, o sacana me cobrou 50. Eu adianto seu lado e você adianta o meu, foi essa a justificativa para a extorsão à qual sequer cogitei reagir por imaginar que houvesse tempo para embarcar. Não havia, e o infeliz também não adiantou meu lado em nada.
Maioria das coisas que acontecem em Brasília me fodem, privilégio meu e de quase 200 milhões de almas. Que façam mau proveito, a companhia aérea e o taxista, da grana que me tomaram.
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