Um dos esportes preferidos da galera que frequenta os bastidores do Metropolitano de Marcas & Pilotos é espinafrar a Stumpf Preparações. Outrora comandada por Jorge Stumpf, a equipe hoje é tocada por Muriel e Jorge Júnior, seus filhos. A Stumpf, num passado recente, ganhava tudo que disputava. E levava, aos quatro ventos ou à boca pequena, acusações de jogo sujo na preparação de seus carros.
Não sou eu quem vai pôr a mão no fogo pela integridade desportiva da família Stumpf. Mal sei apertar um parafuso, não entendo bulhufas de peças de carros e minha preocupação é melhorar um pouco o jornalismo limitado que pratico. Jorge, Muriel e Júnior, fato incontestável, conhecem do assunto, e muito, e devem saber o que estão fazendo. E fazem bem.
Pode até ser que estejam nela, a família Stumpf, os maiores vigaristas do esporte brasileiro. É o tipo de conversa que me soa como choro de perdedor, mas isso não é problema meu.
Sempre que ouço menções sobre trapaça técnica nos carros da Stumpf, em quaisquer categorias, lembro-me de uma passagem de novembro de 2003. Era sábado, quase início de noite, véspera de Cascavel de Ouro. A corrida voltava ao calendário depois de seis anos, era questão de honra para o então presidente do clube local, Pedro Litron, resgatá-la.
O grid já estava definido, o trabalho das equipes em geral já estava concluído, o momento era de relaxar. Cada qual à sua maneira. Eu me juntei ao time dos que foram à lanchonete do Caio, ali mesmo, dentro dos boxes. A venda de cerveja já estava liberada. Sentei na mureta ao lado de Saul Caús (foto), começamos a bater papo enquanto lá na pista de rolamento dos boxes os mecânicos da Stumpf empurravam ladeira acima um de seus carros. Era o Voyage preto dos irmãos Adriano e Daniel Reisdorfer.
“Que bobeira é aquela?”, perguntei. “Estão treinando reabastecimento para a corrida de amanhã”, respondeu Saul, calmamente, entre um gole e outro de cerveja. Saul, que partiu para o andar de cima há poucos meses, gostava de uma boa cervejinha. “Mas já não tiveram tempo para fazer isso antes?”, emendei. “Tiveram, e fizeram”, respondeu. “Mas ainda não anoiteceu e estão treinando um pouco mais. Estão certos, quanto mais treinar é melhor”.
A lógica daquele esforço era compreensível. E, a cada treino de encaixe do bocal da mangueira, lá iam os mecânicos de novo, empurrando o carro pit lane acima para que houvesse, na volta, a simulação da chegada ao box. “E por que raios eles não ligam esse carro e dão marcha à ré, em vez de ficarem sofrendo?”, estranhei.
Saul matou a charada, com ar de professor: “Tem uma regra da FIA que proíbe dar ré na área de box. Lembra o Mansell naquela corrida?”, exemplificou. Ele não soube dizer, mas a alusão era ao GP de Portugal de 1989, em que Nigel Mansell foi desclassificado da corrida e multado em US$ 50 mil por ter corrigido com uma marcha à ré seu posicionamento errado durante um pit stop no box da Ferrari. “Ninguém da FIA está aqui para ver, mas eles não querem fazer errado”, abonou Saul.
Nisso, chegou à conversa mais alguém, não lembro quem. Acho que era o Toco, sobrinho do Saul e integrante de sua equipe, da Caús Motorsport. “Olha lá”, disse Saul, apontando para mais uma simulação de reabastecimento. “É por isso que eles andam na frente. É assim que eles ‘andam fora’. E vão ganhar amanhã”, tentou profetizar.
A Stumpf não ganhou a Cascavel de Ouro. Ficou em segundo, com os pilotos Jaime Melo e Lauri Vianna. A vitória foi de Flávio Poersch e Aloysio Ludwig Neto, com o carro da Sorbara Motorsport.
Lidar com as corridas em Cascavel traz saudade do velho Saul.
2 comentários:
Muito bacana esse tipo de historias ai do pessoal de cascavel. Saudades das tarde no autodromo.
Muito trabalho, dedicação e "um pouco" de competência levam ao sucesso!!!
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