sábado, 26 de maio de 2012

Cigano do Brasil

CURITIBA - Eis que estamos no quarto do hotel, Kaká Ambrósio e eu, zapeando a televisão enquanto não termina o infame Zorra Total, procurando algo para ver até a hora do tal UFC. Que não sabemos onde vai ser, e nem a que hora começa, e nem onde é. E nem quem vai lutar com o Cigano.

Horas atrás, lá no aeroporto de Congonhas, brinquei com o Júlio Campos, que me perguntou se seria hoje a luta do Cigano. Brinquei com ele pelo Twitter, perguntando quem é Cigano e o que é luta. Não sabia, de fato, mas pressupus que sim, que seria hoje, já que no início do ano, janeiro ou fevereiro, vazou na mídia a história do currículo do adversário do Cigano postado na Wikipedia, já considerando a vitória sobre o Cigano na luta de maio. Foi disso que lembrei, que a luta aconteceria em maio, a chance de ser hoje era quase total.

Já em Curitiba, o cidadão que sentou-se a meu lado ligou pra alguém, imagino que sua esposa, e pediu para gravar o UFC, porque hoje o Cigano lutaria. Dúvida dirimida, enfim. E, mesmo não entendendo picas do UFC, sei quem é Cigano, claro, afinal há pouco tempo ele foi aclamado à condição de Júnior Cigano do Brasil, lembrei agora que é Júnior.

O Kaká parou na MTV, onde estão Herbert Vianna e seus blue caps, todos vestidos de vermelho da cabeça aos pés, cantando e tocando músicas da Legião Urbana. Haveremos de achar o UFC, quero ver a luta do Júnior Cigano, que não sei o que vale, nem sei se vale algo, parece-me que esses combates sempre valem título mundial.

Não vou arriscar juízo de valor sobre o MMA, que é a modalidade, já que UFC é o evento, isso foi repetido a tamanha exaustão que consegui aprender. Só o que não me entra na cabeça é a disposição que os praticantes têm de subir a um ringue, o tal octógono – que já definiram como quadrado de oito lados –, e tomar soco e pontapé na cara em nome do espetáculo. Isso machuca.

Artes marciais, eis uma coisa que me causa certo fascínio. Anos atrás acabei acompanhando por mais de uma hora uma sessão de treinamentos de uma equipe de kung-fu, não sei se leva esse hífen, a habilidade com movimentos e o lido com as armas próprias da modalidade me deixaram atônito, a exigência de treinamento e de disciplina é extrema. Judô é outra modalidade que aprecio, em que pese a implicação de um confronto para que seja consumado, mesmo quem toma um nocaute, no caso um ippon, sai do tatame sem lesões, reverenciando o contexto. Não há o culto ao sangue.

Aí, como trabalho como automobilismo, alguém haverá de me alertar que as corridas também machucam, até matam. A diferença, a mim, é muito evidente. Automobilistas não levam para seu cotidiano as particularidades das corridas. Normalmente, por saberem o que é a prática do automobilismo, evitam abusos em ruas e estradas e espaços públicos. Rachas e cavalos-de-pau na rua, coisa de gente retardada, não são praticados por pilotos de competição, salvo lamentáveis exceções. Por outra via, fã de corridas costuma ser mais insuportável que quem aprecia os combates.

Ao que percebo, praticantes de esportes que primam pelo espancamento do oponente são os que andam em locais abarrotados de gente com os braços em formato de asa de xícara, fazendo questão de esbarrar em todo mundo, sempre dispostos a mostrar quem é o melhor galo de briga do pedaço. Têm a estupidez e a arrogância estampadas no olhar. Praticam tudo que vai contra os princípios da boa convivência calçados no que entendem ser argumento, de que as virtudes do espancamento são advindas do esporte, e esporte é vida.

Meros devaneios sem importância.

Quando tenho tempo para conversar comigo mesmo, e me acho ótima companhia, costumo aplicar minhas sempre superficiais análises aos motivos do MMA. Estão muito além, ou muito aquém, da minha compreensão. Ao Luc Júnior, com seus cinco anos e meio, já reservo a consulta de institutos que ensinam o judô, ou o kung-fu, esse esporte tão bonito em que os grandes mestres não têm necessariamente de espancar ninguém. Boxe, MMA e afins não são coisa para ele.

De qualquer modo, vou torcer pelo tal Cigano. Apesar de ele ser o Cigano do Brasil.

1 comentários:

Cesar G. Novak disse...

Parabéns pelo seu comentário sobre UFC, pois sou da mesma opinião sobre as lutas de MMA, apesar de nunca sequer ter assistido a luta alguma, mas as próprias chamadas da TV me deixa indignado de como alguém pode venerar um esporte com tamanho grau de violência.
E, quanto as artes marciais ( não lutas ), destaco também o karatê ( mistura de várias artes em uma só ), apesar de ser um pouco mais pegado, pois meu filho quando tinha cinco anos, as vezes se tornava um pouco irritado na escola, foi quando matriculamos numa escola de karatê, mudando totalmente seu comportamento, que antes era as vezes agressivo, para comportamento calmo, e, principalmente com a visão de que as artes marciais além da disciplina, trás toda uma cultura milenar da sabedoria dos grandes mestres que estudavam por anos os movimentos da natureza, para utilizar em seus ensinamentos na forma de defesa pessoal, e, ataque apenas em última instância.
Resumindo em 6 anos que meu filho frequentou aulas de karatê, hoje ele com 14 anos reconhece o quanto foi útil esse aprendizado, sendo que apenas parou devido a um acidente sofrido, quando os médicos solicitaram para ele parar por um ano a prática do karatê.
Artes marciais, sim é cultura, agora alguém aplaudir um ser humano bater em outro de forma bruta e bárbara, isso pra min é o mesmo que colocar prisioneiros a enfrentar leões em picadeiros na idade média.