segunda-feira, 14 de maio de 2012

Torrão feelings

CASCAVEL - O Marcelo Ramaciotti, que se não é deveria ser secretário das boas cervejadas da cidade de São Paulo, estava todo pimpão dias atrás. Fez um teste com um carro de corridas em Interlagos, um protótipo da Spyder Race. Estava por certo convencido da inconveniência da pecha de "piloto de autorama gigante" que lhe foi atribuída pelo Rogério Tranjan, um foragido do mundo virtual - Marcelo, ou Torrão, é piloto amador de kart.

Não tenho nada a ver com isso, e piloto testando em Interlagos sempre há às pencas. Até o dia em que vi algumas das fotos do Torrão na pista, e reproduzo algumas aqui nesse post. Todas foram feitas pelo Fabrício Vasconcelos. Nenhum mérito a eles - nem ao Torrão, nem ao Fabrício. Mas ao número do carro, o 66. Todos os carros de corrida do planeta deveriam ter esse número, o mesmo que eu usava quando fazia na pista as besteiras que o Torrão faz hoje.

Brincadeira à parte, queria ter estado lá. Conheço o Torrão o suficiente para atestar que lhe tenha sido, mesmo, um momento bastante especial, conforme ele próprio narra a seguir.

OS SONHOS
Desde pivete, amo o automobilismo. Minha mãe conta que quando tinha 5 anos, andava a milhão com meu velotrol cantando o “tema da vitória”. O grande culpado disso foi meu pai, que sempre me levava para Interlagos, ainda quando criança. Ainda bem, fui mordido pelo vício mais gostoso do mundo. Pena ser um dos mais caros, também.

Com o passar do tempo, sempre estive ligado na frente da TV, revistas e arquibancadas de autódromos e kartódromos por aí. Já aos 20, virei sinalizador em Interlagos. Aquilo era o mais próximo que já havia chegado das máquinas e pilotos que cresci venerando e babando de longe. Sempre pensava como seria ter meu próprio macacão, capacete personalizado e todos os equipamentos que um piloto precisa ter, mas nunca imaginei tê-los. Como sinalizador, eu podia, e precisava, usar meu carro para me locomover dentro do autódromo, e isso me obrigava a passar por alguns trechos da pista, obviamente. Entrar ali pela primeira vez, em 2003, mesmo que com meu Celta 1.0, foi a realização de um sonho que me tirou o sono por alguns meses, e quase o emprego de sinalizador também, já que o trecho que deveria ser percorrido transformou-se em algumas voltas no templo.

A partir desse dia, tinha alguns objetivos no quesito automobilismo. Voltas “rápidas” em Interlagos, eu já havia feito com meu super carro de rua. Depois, queria andar em um carro rápido lá, mesmo que como passageiro. Esse foi o Otávio Mesquita que realizou, com seu Porsche GT3 de rua em 2004. Os próximos eram abusados. Queria correr alguma categoria não amadora, nem que fosse de kart. Como muitos já sabem, disputo a Copa SP de Kart pela equipe ModerFast desde 2010. Depois disso, passei a viver meus fins de semana em autódromos e kartódromos, fosse para correr, assistir, ajudar, fazer rádio dos amigos ou o que quer que fosse. Outro desses objetivos abusados, era guiar um carro de corrida, seja qual e onde fosse. Piracicaba, 2011, lá estava eu andando de Stock Jr. Mas ainda faltava um... Andar em um carro de corrida em Interlagos. Maio de 2012, sentei pela primeira vez em um Spyder, para um treino em Interlagos, num carrinho fantástico de mais de 220cv, onde pude finalmente sentir a real sensação do que é ser piloto.

O teste
Data e hora agendada, carro e inscrição fechados, lá vou eu para Interlagos. Capacete lustrado, macacão de nomex emprestado, cheguei ao autódromo por volta das 8 da manhã, para o teste que aconteceria às 10. Estava tenso, obviamente. Aliás, fico tenso sempre que vou andar de qualquer coisa, pode ser até kart indoor. Essa agonia só passa quando ligam o motor da barata e me mandam acelerar.

Instalei a GoPro para registrar os momentos, me troquei, peguei uns toques com os amigos pilotos que lá estavam e esperei o horário de abrir box. Como o custo da brincadeira é alto, dividiríamos o teste em 4 pilotos, e andaríamos pouco mais de meia hora cada um. O primeiro a sair do box com a máquina foi o Antonio de Luca, outro ModerFast, que seria responsável por amaciar o motor e câmbios novos por umas 3 ou 4 voltas e para depois sim acelerar como deve ser. Enfim, chegou minha hora. Depois de umas 10 voltas, o amigo encostou o carro e era minha vez. Vesti capacete, Hans, luvas e os mecas me afivelaram no carro, que é muito confortável, aliás. Já entrei em vários carros de corrida, mas nenhum havia aceitado tão bem meus quase 1,90m. Isso foi bom, me senti a vontade ali dentro. Segundo relatos dos amigos Fábio Vianna e Fabrício Vasconcelos, minha mão ao arrumar o retrovisor parecia de alguém que está nu nos Andes. Eu nego tal nervosismo extremo.

Liguei o carro, engatei primeira e... O diretor de prova veio me tirar dele, havia esquecido de assinar a inscrição. Toca descer do carro, correr na torre e arrumar o que estava errado. Voltei pro carro, me amarraram de novo, liguei a barata, engatei primeira, segunda e quando estava na saí da de box, bandeira vermelha, me barraram. Perguntei o que estava acontecendo e o fiscal me avisou que era um carro que estava pegando fogo na pista, depois de um acidente. Olhando para ele, me lembrei de quando eu estava ali, olhando para onde eu estava agora, dentro do carro, desejando aquilo como jamais desejei algo em toda minha vida. Por um certo momento, desejei novamente ser fiscal. Juntou o nervoso com um certo medo e aquele pensamento de que alguém estava me avisando para não fazer aquilo batia na minha cabeça como um martelo. Mas eu sou teimoso, e como sou. Bandeira verde novamente, lá vou eu para a pista. Desci a saída dos boxes, entrei na reta oposta e acelerei. Meu Deus, que susto. Como aquele carrinho anda... Aí a veia de piloto maluco falou mais alto. Todo o receio, medo, nervoso e qualquer sentimento ruim ficaram nos boxes. Aos poucos fui me soltando e curtindo cada minuto da brincadeira. Uns sustos, umas quase rodadas e apertando o da direita cada vez mais. Foram 3 voltas e logo o motor começou a falhar, até apagar no fim da reta e me fazer estacionar depois da primeira perna do S do Senna e ser rebocado de volta. Problema na bomba de combustível. Arrumaram e voltei para a pista no próximo treino, o das 13 horas. Mais confiante, saí com a idéia de entender o carro e tentar fazer alguma coisa que não fosse vergonhosa para com o cronômetro, volta a volta, afinal de contas, ainda tinha umas 10 pela frente. Primeira volta, virei 1’59”344. O tempo desse carro, com pneus novos e um piloto profissional guiando é de 1’44”. Estava longe disso, mas sabia exatamente onde poderia ir mais longe e pretendia chegar o mais perto do tempo ideal que pudesse. Na segunda volta, menos 5”, 1’54”290. Na terceira, abusei um pouco mais e dei uma bela atravessada no Lago. Tomei um baita susto, achei que fosse de frente nos pneus, mas nem rodei e fui embora. Cruzei com o mesmo tempo da primeira volta, mesmo com o incidente narrado. Na quarta volta vinha para baixar mais uns 4”, mas infelizmente a bomba foi pro espaço de novo na junção e tive que encostar no box, me arrastando. Foi o fim do dia para mim, afinal, mais pilotos queriam brincar, e eu não era o dono da bola.

Foi pouco, mas foi muito. Achei que esse objetivo seria alcançado aos 40 anos, ou próximo disso, quando pudesse bancar minha brincadeira. Se aconteceu, é porque tudo está dando certo e isso é sinal que posso criar objetivos ainda mais “difíceis”. E eles já foram criados, tenham certeza disso.

Em breve, quem sabe, volto para contar a experiência de realizá-los.


1 comentários:

tarso marques lima disse...

Entendo muito bem esse texto... em 2003 criei o GreenFlag, para estar perto do automobilismo.

Em 2006 fiz minha primeira corrida, de fusca na terra. Ainda em 2006 corri de Gol no asfalto. Em 2007 fiz uma corrida apenas, quando colocamos 57 carros no grid em Curitiba.

Na temporada 2008 fiz algumas provas e em 2009 fiz a temporada completa do marcas em Curitiba.

Em 2010 tive a oportunidade de pilotar o Spyder de 2 lugares em Campo Grande.

E de lá pra cá, nao pilotei mais nada. Não vejo a hora de poder voltar pra pista!