Semana passada, a pedido o colega e amigo Américo Teixeira Júnior, do Diário Motorsport, colhi no Rio de Janeiro um depoimento de Antonio Hermann (foto), piloto e promotor da prova Mil Milhas Brasileiras. Prova que não vai acontecer em 2009, conforme Américo explanou em sua matéria, que pode ser conferida aqui pelos que ainda não a leram.
Nos minutos de descontraído bate-papo com Hermann, movido pelas alegações dele para a ausência das Mil Milhas no calendário, pus-me a pensar em quão ingrata é a missão dos promotores de corridas no Brasil. São gente que, invariavelmente, assumem verdadeiros abacaxis para levar eventos e categorias adiante, comem o pão que o diabo amassou, deixam seus negócios e suas vidas de lado – uns mais, outros menos – em prol do trabalho que sua missão exige, amargam prejuízos financeiros e, não bastasse tudo isso, são alvo de críticas que vêm de todos os lados.
A exceção à regra, apontada pela unanimidade, foi Aurélio Félix. Não que tenha deixado de ouvir o que quis e o que não quis. Pelo contrário, foi homem dos mais polêmicos já vistos no nosso esporte. E, mais que os outros, dedicou sua vida à categoria que criou, a F-Truck. A ponto do ritmo frenético de trabalho tê-lo levado ao infarto fatal no ano passado. Aurélio fez, à custa do talento empreendedor e beneficiado pelas especificidades de sua categoria, um evento de sucesso, que fez do antigo caminhoneiro um próspero promotor de corridas. Carlos Col, desde que assumiu as rédeas da Stock Car, também teve seus méritos, num sucesso que tem boa parte creditado à parceria que conseguiu celebrar com a Rede Globo.
Corridas de automóveis são, claro, negócios. E, como todo bom negócio, devem ser rentáveis. Mas não o são, via de regra. Antonio Hermann, com as Mil Milhas e a GT3, vem lidando com dificuldades sublinhadas, em 2009, pelo fantasma da crise financeira. Os resultados proporcionados pela Fórmula 3 não parecem ser os imaginados por Dilson Motta quando tomou frente do Sul-Americano. O incansável Toninho de Souza, de vida quase inteira dedicada a fazer automobilismo, pode ser tomado como exemplo claro de que promotores de corrida vivem pelo trabalho sem esperar reconhecimento. Se dele dependessem, nenhum remaria mais neste barco.
Um grid com poucos carros, uma arquibancada com poucos espectadores, um evento de contabilidade deficitária, um regulamento técnico que motive discussões, tudo é motivo para fazer de qualquer promotor de corridas um saco de pancadas. Não só por parte da imprensa, acusada por um ou outro promotor de ser a mais inconveniente pedra no sapato, mas também por parte dos pilotos.
Cá em Cascavel, há dois anos, um grupo de pilotos assumiu, por iniciativa própria e mediante os devidos trâmites, o comando do Campeonato Metropolitano de Marcas & Pilotos. Grupo que ficou um ano à frente da categoria, conheceu mais de perto todas as dificuldades, fez um trabalho diferenciado – que funcionou muito bem, diga-se, e ainda assim resultou em prejuízo financeiro. O exemplo de Cascavel, aplicado e melhor trabalhado, pode ser uma sugestão para todo o contexto nacional. Não é suficiente para resolver, claro, os problemas do automobilismo. Mas capaz de diminuir e muito o volume das críticas que os pilotos direcionam aos promotores de eventos.
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