
Foi em Jacarepaguá, em dezembro daquele mesmo 2003, que comecei minha carreira de locutor de corridas, na última etapa da Pick-up Racing. Foi no dia em que capturaram o Saddam Hussein, foi a última corrida da vida do Gerson Marques, criador da categoria. Um trabalho que está indo longe, já, quase nove anos, hoje mais voltado a transmissões de tevê e internet que à comunicação com público das arquibancadas. Tenho isso pra contar, é um legado, afinal.
Durante a transmissão do Brasileiro de GT para a Rede TV!, horas atrás, o Kaká Ambrósio, que é da gema e assina nossa reportagem de box, fez um relato apaixonado de algumas de suas experiências em Jacarepaguá, falo sempre do autódromo e não do bairro, a primeira entrevista que ali fez em 1981 com o Raul Boesel numa corrida de Fórmula 1, a vitória de André Ribeiro que presenciou, citou mais alguma coisa. Tudo que o Kaká vai acompanhar agora é a demolição do autódromo.
Havia um acordo judicial, costurado e anunciado aos quatro ventos pela Confederação Brasileira de Automobilismo, garantindo que as marretadas no Nelson Piquet, falo do autódromo, só seriam autorizadas quando um novo autódromo estivesse concluído. Não há novo autódromo, a área que apontaram para isso é inviável por centenas de razões. Não é a vinda dos Jogos Olímpicos a responsável pelo fim do autódromo. Não haverá Jogos Olímpicos ali. O velódromo é inviável. O parque aquático, a céu aberto, idem. Ali hoje há um centro de treinamentos onde ninguém treina, é o máximo a que vai chegar até que as marretadas definitivas deflagrem a inauguração de um pomposo condomínio de luxo, porque Jacarepaguá, falo do bairro, já consta como Barra da Tijuca nas tabelas de cotações imobiliárias desde há muito. Contas bancárias vão engordar, não deve haver lugar no mundo onde quem tem a faca e o queijo nas mãos não aprecie uma boa tábua de frios ou um bom sanduba.

É errado dizer que o automobilismo do Rio acabou. O automobilismo daqui é forte, tem tradição, despeja há décadas ótimos profissionais no mercado das corridas. Acabou, sim, o autódromo – ok, a pá de cal virá só daqui a duas semanas, com o Brasileiro de Marcas. Há etapa do Moto 1000 GP marcada para Jacarepaguá no começo de dezembro, duvido que os promotores do campeonato não vão transferi-la para outra vizinhança. Quem é daqui vai espernear um pouco mais que quem é de fora, com o tempo as coisas vão se encaixando – já expus esse senso-comum em quantas situações aqui mesmo no BLuc? –, quem trabalha com automobilismo aqui vai se ver trabalhando noutras cercanias, já falam até em transferir as competições do Campeonato Carioca para Interlagos e Belo Horizonte, e acho que nesse caso à alusão correta seria a Santa Luzia, onde existe a pista de corridas do Mega Space. As pessoas se adaptam às coisas, mesmo quando as coisas são ruins, isso é uma das qualidades das pessoas.

E, mais importante que tudo isso: onde o Plotter vai morar?
1 comentários:
Luc, assisti à transmissão da corrida do GT Brasil e do Mercedez Challenge, quero parabenizá-lo pelo ótimo trabalho e qualidade da narração.
Enquanto você falava sobre o fim do autódromo, ia me dando nojo em saber que toda essa parte da história automobilística não só carioca, mas também brasileira, está indo pro lixo. Está tendo este desfecho trágico não por razões de ordem desportiva ou mesmo financeira, já que o município do RJ não tinha tantas dificuldades para administrar o autódromo de Jacarepaguá. Tudo isto acabou devido à corrupção, ganância, roubo e outros adjetivos inseparáveis da política brasileiras.
Foi triste ver as últimas imagens dessa histórica pista, palco de exibições memoráveis de corridas das mais variadas categorias. E pior ainda é saber também que nem mesmo a desculpa das olipíadas pode ser usada, já que as construçôes faraônicas erguidas para o Pan de 2007, também devem ser demolidas, já que estão praticamente abandonadas e darão lugar num futuro próximo a condomínios de luxo, já que muito dinheiro deve ter sido envolvido nessas negociatas em relação à compra da área do autódromo.
Por fim, o brasileiro fã do automobilismo deve guardar bem na memória os nomes de Rosinha Garotinho, Carlos Arthur Nuzman (que posa de inocente e bom moço o tempo todo, não duvido nada que ele se cadidate a algum cargo público eletivo num futuro próximo, vendendo o peixe que não pescou) e o maior de todos, o ex-prefeito César Maia, o maior culpado por esse absurdo que a aconteceu à Jacarepaguá.
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